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Viver no espaço tem um efeito devastador nos ossos dos astronautas

Os astronautas perdem décadas de massa óssea no espaço que muitos não recuperam mesmo ao fim de um ano de regresso à Terra.

Catarina Solano de Almeida

Más notícias para as futuras missões espaciais: os astronautas perdem décadas de massa óssea no espaço. Pior que isso, muitos não recuperam mesmo depois de um ano de volta à Terra, revela um novo estudo.

A atrofia dos ossos causada pela ausência de gravidade no espaço, semelhante à osteoporose, tem sido estudada há vários anos. A bordo das estações espaciais, flutuar é agradável, mas os astronautas devem dedicar várias horas por dia ao exercício físico para limitar os danos da falta de atividade do sistema musculoesquelético.

Estudos anteriores mostraram que os astronautas perdem entre 1 a 2 por cento da densidade óssea por cada mês passado no espaço. Menos conhecido é quanto tempo é preciso para o corpo do astronauta recuperar depois de regressar à Terra.

Para poder chegar a uma conclusão, um novo estudo acompanhou durante sete anos 17 astronautas antes, durante e depois de uma estadia na Estação Espacial Internacional (ISS).

A recuperação não é completa, mesmo após um ano de regresso à Terra

A investigação, que começou em 2015, acompanhou 14 homens e três mulheres antes do voo espacial, quando regressaram à Terra, seis meses depois e ao fim de 12 meses. Os nomes e as nacionalidades dos astronautas não são revelados, mas pertencem à NASA, ESA e às agência espaciais canadiana e japonesa JAXA.

Os cientistas da equipa liderada por Steven Boyd, diretor do McCaig Institute for Bone Health da Universidade de Calgary, no Canadá, analisaram a tíbia (que suporta quase todo o peso do corpo) e o rádio (antebraço) para avaliar a densidade e resistência às fraturas.

Um ano após o voo, 16 astronautas apresentaram reabsorção incompleta da tíbia, que tinha perdido até 2,1% da sua densidade óssea em relação ao período antes do voo. Quanto maior a permanência em órbita (6 a 7 meses), mais o sistema ósseo foi danificado

Conclusão: a densidade óssea perdida pelos astronautas foi equivalente ao que teriam perdido em várias décadas se tivessem estado sempre na Terra, revela o estudo publicado na revista Scientific Reports.

“Já sabíamos que os astronautas perdem massa óssea nos voos espaciais de longa duração. O que é novo neste estudo é que acompanhamos os astronautas durante um ano após a viagem espacial para entender se e como o osso se recupera”, disse à agência Reuters o co-autor do estudo Leigh Gabel, professor da Universidade de Calgary.
“Os astronautas tiveram uma significativa perda óssea durante os voos espaciais de seis meses – perda que esperaríamos ver em adultos mais velhos ao longo de duas décadas na Terra. E após um ano de volta à Terra, eles só recuperaram cerca de metade dessa perda”, explicou Gabel.

“É como se os astronautas estivessem 22 horas deitados”

Os habitantes da ISS têm há alguns anos uma nova máquina desenvolvida pela NASA, o Ared (Advanced Resistive Exercise Device), que exerce no corpo uma resistência semelhante à gravidade, permitindo flexões de pernas, trabalho de bíceps ou abdominais, exercícios imprescindíveis para reduzir a perda de massa óssea.

“A microgravidade [ausência de peso] é a inatividade física mais drástica que existe”, comentou à AFP Guillemette Gauquelin-Koch, chefe de medicina espacial do CNES, a agência espacial francesa, que não participou neste estudo. “Mesmo com duas horas de exercício físico por dia, é como estar 22 horas deitado”.

É que para futuros voos tripulados a Marte – que demoram muito mais do que seis meses – este é mais um problema a ultrapassar, que se soma à questão da radiação cósmica e ao impacto psicológico de um longo confinamento.

“Não será fácil para a tripulação pisar em solo marciano quando chegar… é muito incapacitante”, afirmou Gauquelin-Koch.


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