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Que traz de novo o 5G? 

Um olhar rápido sobre a evolução das tecnologias de informação poderá ajudar a entender o que poderemos esperar do 5G.
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João Paulo Luz

A forma como nos desenvolvemos em sociedade sempre teve uma relação próxima com a forma como conseguimos comunicar. Já nos longínquos anos 550 AC que na Antiga Pérsia, o atual Irão, havia registo de uma organização que todas as províncias deveriam implementar para assegurarem a comunicação entre os seus cidadãos. Dois séculos mais tarde na India também se desenvolveram sistemas de distribuição de mensagens escritas ao mesmo tempo que se implementavam outros serviços públicos.

A preocupação de assegurar um sistema que permitisse que os cidadãos comunicassem entre si, mas que sobretudo disponibilizasse às chefias militares canais de comunicação e aos diferentes governantes a possibilidade de comunicarem com os seus súbditos, atravessou os tempos desde a Antiga Roma aos nossos dias. Por se entender a importância de dominar a veiculação da informação, os diversos governantes ao longo dos séculos sempre deram a maior atenção à distribuição do correio.

Numa sociedade hoje tão marcada pela aparente desregulação da forma como podemos veicular a informação, tendemos a esquecer que é natural que os órgãos de soberania de cada Estado mantenham um olhar apertado sobre os canais de comunicação. Só nos lembrámos destes cruzamentos entre poder politico e canais de informação com a euforia coletiva que experimentámos com o impacto das redes sociais nas Primaveras Árabes entre finais de 2010 e 2012, ou, um ano depois, com as denúncias de Edward Snowden de milhares de práticas da NSA, e, agora, com a recente e ainda presente discussão à volta do 5G.

Se nos é claro porque que é que as denúncias de Edward Snowden evidenciam que o equilíbrio entre a segurança e a violação da privacidade é muito difícil, e porque é que a liberdade de comunicar dificulta os regimes absolutistas mas não garante a sustentabilidade dos que os substituem, como nas Primaveras Árabes, já o que se discute com o 5G é, ao dia de hoje, menos evidente.

Mas um olhar rápido sobre a evolução das tecnologias de informação poderá ajudar a entender o que poderemos esperar do 5G. Data dos finais dos anos 70 o desenvolvimento da primeira geração de telefonia móvel. No Japão a NTT DoCoMo desenvolveu uma rede que permitia comunicar por telefones móveis. Eram enormes e aos olhos de hoje até ridículos mas eram um enorme salto em relação aos telefones sem fios anteriores apenas usados pelos militares.

A segunda geração ou 2G, lançada na Finlândia em 1991 trouxe-nos o GSM (Global System Mobile Communications) e com isso a possibilidade de transmitirmos dados pelos telefones. Surge o SMS que tão popular se veio a tornar no início do século XXI, quando já em convívio com a internet dos desktops e laptops, utilizámos uns devices para a internet e os telefones para falar e enviar short messages.

É precisamente nessa convivência com a internet que surge o 3G. Apesar de se iniciar logo em 2001, novamente no Japão pela NTT DoCoMo, o 3G marcou os nossos dias por possibilitar maior largura de banda que permitia vídeo chamadas, email no telefone e acesso a música e vídeos. A marca mais visível para recordarmos o impacto do 3G, são os BlackBerry e sobretudo o iPhone que vendendo mais de 1 milhão de telefones no fim de semana de lançamento do iPhone 3Gs em 2008, veio alterar tudo. A sobreposição com a internet profissional ou doméstica começa a ser uma realidade, e marca a preferência pelo device móvel mesmo quando estávamos perto de um laptop. Era a época em que mudávamos sempre para Wi-Fi o acesso à web no nosso mobile porque não pagávamos mas, sobretudo, porque a internet era mais rápida.

O 4G que hoje conhecemos trouxe-nos muito mais que vídeo sem soluços e páginas web a carregarem quase automaticamente. Isso não foi pouco, e se nos lembrarmos da facilidade em que fazemos as reuniões por Teams quer estejamos em Wi-Fi que estejamos no nosso mobile, percebemos logo porque é tão importante esta velocidade móvel com estabilidade. Reuniões entre quem esteja numa esplanada em São Paulo com alguém que esteja numa praia das caraíbas ou no escritório em Lisboa são possíveis e tomadas com a garantia de que nada nos vai falhar.

Mas quando pensamos no que o 5G nos vai trazer lembramo-nos que talvez ainda não saibamos totalmente. A resposta fácil é que o 5G vai trazer o equivalente ao Uber no 4G. Só a velocidade dos dados móveis permitiu que pudéssemos pedir um carro a qualquer hora em qualquer parte de qualquer cidade do mundo desenvolvido e o tempo de espera fosse quase sempre inferior a 10 minutos. O simples mapa que nos aparece com um rigor imenso de que carros estão próximos, a que velocidade circulam e que rotas terão de fazer para nos apanhar só é possível porque há 4G.

Ora o que sabemos do 5G é que o impacto vai ser potencialmente gigante. Será até 100 vezes mais rápido que o 4G, terá uma latência até 50 vezes inferior e poderá ligar muitos mas muitos mais devices na mesma área.

Se a velocidade e a latência são importantes para que um cirurgião em São Francisco posso operar alguém na África do Sul através de um robot, ou possamos ter muito menos acidentes rodoviários e com o trânsito a fluir mais rápido com carros autónomos, já a enorme capacidade de ligar milhares de devices na mesma área vai explodir a Internet of Things (IoT).

Tudo estará ligado, desde o frigorífico que pode ir atualizando a lista do que vamos consumindo e que precisamos de repor, à eficiência energética e de consumo de água nas nossas casas, tudo poderá estar ligado e ser assim medido e otimizado em conjunto. Também os nossos equipamentos desportivos e até as nossas roupas irão poder recolher informação, útil para quem as utiliza, para quem as fabrica ou para quem as queira comprar em segunda mão. A realidade é que é mais fácil de perceber o potencial do que a execução, tal como não antecipámos com clareza o que iria ser a Uber.

Mas há duas coisas que parecem seguras de dizer. Ninguém deve achar que ter pressa em aderir ao 5G é um luxo supérfluo, pois só vai desenvolver soluções quem tiver acesso, e que a massiva recolha de dados deixará os atuais serviços de informação dos Estados parecerem obsoletos em pouco tempo, o que justifica a enorme guerra política que a sua implementação envolve.

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