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"A Humanidade tocou no Sol": o "feito monumental" da sonda solar Parker

A sonda solar poderá ajudar as pessoas a entender melhor o sistema solar, de acordo com a NASA.

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SIC Notícias

Uma sonda da NASA tornou-se na primeira a "tocar no Sol", anunciaram os cientistas esta terça-feira, um marco esperado e um grande salto para melhor compreender a influência da estrela no sistema solar.

A sonda solar Parker voou com sucesso através da atmosfera superior do Sol, em abril, para recolha de amostras de partículas e dos campos magnéticos, de acordo com uma pesquisa publicada na revista Physical Review Letters.

As descobertas também foram anunciadas esta terça-feira, no Encontro de Outono da União Geofísica Americana, em Nova Orleães.

“Durante séculos, a humanidade só foi capaz de observar essa atmosfera de longe”, diz a diretora da Divisão de Heliofísica da NASA, Nicola Fox, em entrevista coletiva, onde acrescenta que “Agora finalmente chegámos. A Humanidade tocou no Sol."

A sonda, lançada há três anos num esforço para estudar o Sol e os seus perigos, ajudará os cientistas a descobrir informações significativas e desconhecidas sobre a estrela mais próxima da Terra, incluindo como o fluxo das partículas do Sol pode influenciar o planeta.

O diretor da missão científica da NASA, Thomas Zurbuchen, diz em comunicado que o sucesso da sonda solar Parker em "tocar no Sol" foi "um momento monumental para a ciência solar e um feito verdadeiramente notável”.

“Este marco não apenas nos fornece perceções mais profundas sobre a evolução do nosso Sol e [dos seus] impactos no nosso sistema solar, como tudo o que aprendemos sobre a nossa própria estrela também nos ensina mais sobre [outras] estrelas no resto do universo”, diz Zurbuchen.

O principal autor do estudo e vice-diretor para a Tecnologia da BWX Technologies, Justin Kasper, diz ao The Washington Post que "tocar" no Sol com uma sonda, uma missão há muito procurada, foi "muito emocionante".

“É como visitar um planeta pela primeira vez”, diz Kasper, que também é professor da Universidade de Michigan.

O contacto da sonda com a estrela é o culminar de uma missão que está a ser preparada há mais de 60 anos.

Os cientistas há muito que tentam ver de perto o Sol, a fonte de luz e calor da Terra, bem como as tempestades solares que podem prejudicar satélites e danificar as redes elétricas.

Depois de os principais cientistas do país, em 1958, terem compilado uma lista de missões que pensaram que a NASA, então uma agência espacial totalmente nova, deveria perseguir - sonhos como o telescópio espacial Hubble, o programa Voyager ou o programa Apollo -, muitos acabaram por se concretizar, contudo, o objetivo de alcançar o Sol permaneceu indefinido.

A estrela mais próxima da Terra não tem uma superfície sólida e é descrita num vídeo da NASA como "uma bola gigante de plasma quente que é mantida unida pela sua própria gravidade".

O material do Sol ajuda a formar a atmosfera da estrela, a coroa solar, uma área significativamente mais quente do que a superfície real da estrela.

A coroa tem 999.982º graus Celsius de temperatura no ponto mais quente, muito superior aos 5.727º à superfície.

Algumas das partículas quentes e rápidas da coroa solar acabam por ser enviadas para o espaço como vento solar.

“Quando chega à Terra, a [149.668.992] milhões de [quilómetros de distância], o vento solar é um vento implacável de partículas e campos magnéticos”, observa a NASA.

Os especialistas lutam há muito para prever eventos climáticos espaciais devido à "agressividade" do ambiente ao redor do sol, tentando, igualmente, aprender mais sobre a fronteira chamada superfície crítica de Alfvén, que marca o fim da atmosfera solar e o início do vento solar.

Em agosto de 2018, a NASA lançou a sonda solar Parker numa viagem ao Sol na esperança de aprender mais sobre o clima espacial, uma das maiores ameaças naturais da Terra.

Assim, a 28 de abril, a Parker cruzou a "superfície crítica de Alfvén", que marca o fim da atmosfera solar e o início do vento solar, pela primeira vez, tendo finalmente entrado na atmosfera solar no seu oitavo sobrevoo do Sol.

Dados da sonda mostram que encontrou as condições magnéticas e de partículas específicas da coroa solar a cerca de 13 milhões de milhas acima da superfície solar, de acordo com a NASA.

“Este é um sonho que se tornou realidade”, diz o cientista do projeto para a sonda solar Parker, Nour Raouafi, acrescentando que "um dos principais objetivos da missão Parker é voar através da coroa solar, e estamos a fazer isso agora".

Neste momento, de acordo com a NASA, ”pela primeira vez a sonda esteve numa região onde os campos magnéticos eram fortes o suficiente para dominar o movimento das partículas".

Embora demore meses para confirmar os dados, refere Kasper, as condições descobertas pela sonda são a prova definitiva de que esta passou pela superfície crítica de Alfvén e entrou na atmosfera solar.

“Provavelmente foi em julho deste ano quando pensámos: 'isto é real'", acrescentando que "de facto, passou pela atmosfera do Sol por cerca de cinco horas". Diz, ainda: “Estávamos a sorrir e a tentar manter as nossas bocas fechadas até ter a certeza”.

O voo bem-sucedido não será o último, já que a sonda deverá voar através da coroa solar já em janeiro de 2022.

À medida que a Parker chega mais perto do Sol, é provável que revele mais informações sobre fenómenos solares e ajude as pessoas a entender e prever o tipo de “eventos climáticos espaciais extremos que podem interromper as telecomunicações e danificar satélites ao redor da Terra”, diz a NASA.

“Não sei se vou realmente processar que cruzámos a atmosfera do sol”, termina Kasper.

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