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Após 15 anos preso, homem sai ilibado de crime que não cometeu há 35 anos

É a primeira pessoa a ser libertada com recurso a testes modernos de ADN no estado da Califórnia e o segundo nos EUA.

Rich Pedroncelli

Manuela Vicêncio

Ricky Davis tinha 20 anos quando Jane Hylton, de 54 anos, foi brutalmente assassinada na mesma casa onde ambos viviam em El Dorado Hills, na Califórnia.

A casa pertencia à avó do arguido e patroa da vítima que teria acolhido Jane Hylton e a filha de 13 anos, após problemas com o marido. Na habitação já vivia a filha da patroa, o neto Ricky Davis e a namorada Connie Dahl, de 19 anos.

Terá sido este casal de adolescentes que encontrou a filha da vítima à porta de casa na madrugada de 7 de julho de 1985. Na altura, a jovem garantiu que estavafora da casa com medo de ser repreendida pela mãe, após ter ido a uma festa e ter chegado já de madrugada.

Segundo os depoimentos prestados à polícia na altura, os três jovens entraram juntos na casa e encontraram sangue fora do quarto, onde estava inanimada a vítima, e garantem que chamaram de imediato o serviço de emergência.

O marido da vítima também foi questionado pela polícia, ainda chegou a ser considerado suspeito no caso, mas sem grandes pistas, acabou por ser ilibado.

14 anos depois: a condenação

Em novembro de 1999 o caso é reaberto pela polícia e Connie Dahl, a namorada doe Ricky Davis, volta a ser chamada a prestar depoimento.

É ouvida quatro vezes em oito meses e acaba por mudar o depoimento, que alterou por completo o caso, segundo Northern California Innocence Project.

A organização legal afeta à Faculdade de Direito da Universidade de Santa Clara, na Califórnia que analisa condenações duvidosas nos EUA, garante que o novo testemunho foi conseguido com recursos a técnicas que aumentam o risco de depoimentos falsos.

A testemunha Connie Dahl passa agora a incriminar o então namorado, Ricky Davis, como sendo o principal homicida de Jane Hylton e admite, até envolvimento no crime.

À polícia confessa, agora, que mordeu a vítima durante o ataque e que a filha da vítima também ajudou a mudar o corpo de sítio.

Em agosto de 2005, Ricky Davis é levado para a prisão para começar a cumprir a pena de 16 anos de cadeia até prisão perpétua, pelo homicídio em 2.º grau de Jane Hylton, condenado praticamente apenas com o depoimento da namorada.

Com suspeito preso e condenado, o caso "morre” por mais 9 anos

Só em 2014 é que o Northern California Innocence Project volta a pegar no caso para exigir à procuradoria de El Dorado novos exames genéticos e de ADN aos vestígios do crime de 1985.

Os peritos forenses iniciam assim “o meticuloso processo de análise de provas forenses” e detetam ADN que NÃO pertence ao condenado Ricky Davis, que, entretanto, já passou nove anos na cadeia.

O caso é, novamente, aberto e, em 2019, ordenada a repetição do julgamento.

Esta quinta-feira, 12 de fevereiro de 2020, Ricky Davis é finalmente ilibado do crime grave de homicídio e abandona a prisão sem cadastro criminal, mas após passar quase 15 anos na prisão.

"Ricky Davis foi injustamente acusado, levado a julgamento, condenado e passou os últimos 15 anos preso por um crime que posso lhe dizer com toda confiança, não cometeu", afirmou recentemente o procurador de El Dorado, Vern Pierson.

35 anos depois: detido um novo suspeito

É a própria Procuradoria norte-americana que confirma, agora, que um outro suspeito foi identificado e detido em Roseville, na Califórnia. A identidade não foi revelada porque o suspeito era menor à data do crime.

Ricky Davis torna-se assim no 1.º condenado a ser ilibado por testes de ADN e pelas novas técnicas de análise genealógica forense e o segundo nos EUA.

No primeiro caso as autoridades recorreram a um banco público de amostras de ADN chamado GEDMatch, que contém um milhão de perfis de ADN. A base de dados pública permite associar membros diretos da família, como pais ou irmão ou membros mais afastados como primos de 4.º ou 5.º grau.

E isto não só com dados recentes. O banco permite analisar dados de obituários, certificados de nascimento, documentos oficiais ou até da cobertura jornalística dos casos e apontar para possíveis suspeito.

Já em 2020, um outro homem foi detido nos EUA por ligações a um crime de estupro cometido em 1983, mas que os testes modernos de ADN ajudaram a colocar no local do crime.

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