O Conselho Militar Transitório do Sudão afirmou hoje disponibilidade para retomar as negociações "sem restrições", depois de, na terça-feira, ter anunciado a suspensão de todos os acordos alcançados com a oposição.
"Estamos abertos a negociações em restrição, a não ser o interesse nacional, para fundar um poder legítimo que reflita as aspirações da revolução dos sudaneses", disse o presidente do Conselho Militar Transitório, Abdel Fattah Burhan.
Na terça-feira, Abdel Fattah Burhan anunciou a suspensão de todos os acordos alcançados nas últimas semanas com a oposição e comprometeu-se a convocar eleições num prazo de nove meses.
A ideia foi rejeitada pela oposição sudanesa, que classificou a proposta como uma tentativa de 'reeditar' os passos do ex-Presidente Omar al-Bashir, deposto pelos militares em abril.
O anúncio de Burhan surgiu depois de, na segunda-feira, as Forças Armadas terem lançado uma operação militar para desmobilizar o acampamento de opositores em Cartum que resultou em pelo menos 60 mortos e centenas de feridos.
O chefe da junta militar, que governa o país após a deposição do Presidente Omar al-Bashir, em 11 de abril, lamentou as mortes e ordenou uma investigação aos acontecimentos.
Burhan disse ainda que os responsáveis pela violência contra os manifestantes serão responsabilizados.
O acampamento, epicentro da revolução que levou à deposição de Omar al-Bashir, foi totalmente destruído, segundo denunciou a oposição, que anunciou a suspensão das negociações com os militares.
A junta militar argumentou que a intervenção foi uma ação dirigida contra delinquentes que se tinham infiltrado entre os manifestantes.
Os militares tinham pedido repetidamente à oposição a desmobilização do acampamento para retomar a normalidade no país, mas os ativistas mantiveram-se em frente ao Quartel-General das Forças Armadas, em Cartum, até segunda-feira.
Os manifestantes, que conseguiram que a cúpula militar demitisse vários generais próximos de Al-Bashir, mantinham a pressão nas ruas para que uma autoridade civil assumisse o poder, numa altura em que as negociações com a junta militar estavam num impasse.
Militares e opositores tinham conseguido vários acordos como a formação de um Conselho Soberano transitório integrado por civis e militares, que dirigiria o país nos próximos três anos.
No entanto, não conseguiram chegar a acordo quanto aos nomes a integrar esse conselho, com os militares a reclamarem a presidência e uma ampla representação, algo que foi rejeitado pela oposição, que queria uma liderança civil.
Lusa