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Serviços de informações dos EUA contradizem Trump na identificação das ameaças

A diplomacia frequentemente impulsiva de Donald Trump tem perturbado numerosos aliados dos EUA desde que chegou à Casa Branca há dois anos.

Jacquelyn Martin

Os serviços de informações dos EUA contradisseram hoje o Presidente do país nos principais eixos da sua política externa, da Coreia do Norte ao Irão, passando pela Síria, ao apresentarem o seu relatório anual sobre as grandes ameaças mundiais.

A diplomacia frequentemente impulsiva do multimilionário norte-americano Donald Trump tem perturbado numerosos aliados dos Estados Unidos da América desde que chegou à Casa Branca há dois anos.

Ouvidos pelo Senado, os chefes dos principais serviços de informações deram argumentos aos detratores do Presidente republicano. A distância é nítida a propósito das negociações com a Coreia do Norte, apresentadas por Trump como um dos grandes sucessos diplomáticos da primeira metade do seu mandato.

"As nossas avaliações continuam a mostrar que é pouco provável que a Coreia do Norte abandone todas as suas armas nucleares", os seus mísseis e "as suas capacidades de produção", escreveu o diretor das Informações Nacionais (DNI, na sigla em inglês), Dan Coats, em relatório transmitido ao Congresso norte-americano.

Apesar da suspensão dos ensaios nucleares e balísticos "desde há mais de um ano" e "o desmantelamento reversível de algumas partes das infraestruturas", "continua-se a observar atividades não compatíveis com uma desnuclearização total", registou.

Esta é uma análise situada a anos-luz da autossatisfação exibida por Trump depois da reunião com o líder norte-coreano, em 12 de junho, em Singapura.

"Deixou de haver ameaça nuclear da Coreia do Norte", proclamou então o Presidente norte-americano.Dan Coats destacou que, em Singapura, o líder da Coreia do Norte apenas evocou, em termos de preto e branco, uma "desnuclearização completa da península coreana", formulação que inclui a exigência de os EUA acabarem com as suas manobras e exercício militares na região.

Desde então, as negociações arrastam-se. Segundo o chefe das informações norte-americanas, o regime continua a entender que as armas nucleares são "indispensáveis" à sua "sobrevivência", pelo que está apenas disponível para "medidas de desnuclearização parcial", em troca de "concessões decisivas", como o levantamento de sanções".

Os alertas dos serviços de informações chegam num momento crucial, quando Trump e o líder norte-coreano, Kim Jong-un preparam uma segunda reunião para o final de fevereiro, possivelmente no Vietname.

"Normalmente, um presidente confrontado com análises dos serviços de informações que o contradigam teria ficado inquieto ou pediria outras opiniões", comentou na rede social Twitter o ex-diplomata Aaron David Miller.

"Hoje, isso arrisca provocar uma guerra com a comunidade das informações ou acusações de deslealdade", acrescentou. Uma outra crise nuclear provoca outra análise perturbadora para a diplomacia norte-americana.

A diretora da CIA, Gina Haspel, disse que o Irão continua a respeitar "tecnicamente" o acordo concluído em 2015 para o impedir de se dotar da bomba atómica, de onde os EUA se retiraram no ano passado.

Se os iranianos desejam tomar distâncias em relação ao texto, explicou, deve-se à ausência de avanços económicos, com Washington a restabelecer sanções draconianas contra Teerão, depois de sair do acordo, o que irritou os aliados europeus dos EUA.

Também o anúncio inesperado da retirada dos soldados norte-americanos da Síria, feito em dezembro, semeou desconforto entre os curdos e aliados europeus dos EUA, bem como nas fileiras republicanas.

Também aqui a análise dos serviços de informações difere da de Donald Trump, para quem o grupo que se designa por Estado Islâmico está derrotado. Com efeito, Coats afirmou que este grupo "ainda controla milhares de combatentes no Iraque e na Síria" e "continua a representar uma ameaça para os EUA".

Lusa

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