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Macron concentra poderes, oposição critica uma "monarquia presidencial"

O Presidente francês, Emmanuel Macron, tem vindo a concentrar os poderes, relega o primeiro-ministro para segundo plano, supervisiona de perto os seus ministros e o seu partido aumenta o poder na Assembleia. O alvorecer do "macronismo", segundo os analistas políticos.

Catarina Solano de Almeida


O chefe de Estado expõe na próxima segunda-feira perante o Parlamento no Palácio de Versailles as grandes linhas orientadoras do seu mandato nos próximos cinco anos. Será na véspera da declaração política do primeiro-ministro, Edouard Philippe, sinal claro de um Presidente que ofusca o seu primeiro-ministro.

Esta escolha é criticada pela oposição: os deputados da França Insubmissa, esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon, e os deputados comunistas já anunciaram que vão boicotar este encontro.

"Não iremos a Versailles apoiar a monarquia presidencial" e "validar o boicote ao trabalho da Assembleia", garantem os deputados do Partido Comunista Francês.

O Congresso acontece no Palácio de Versailles porque reúne as duas câmaras: o Senado e a Assembleia Nacional - geralmente apenas para sessões solenes ou excecionais, como uma revisão constitucional. Os Presidentes Nicolas Sarkozy e François Hollande apenas recorreram uma vez a esta reunião. Macron decidiu torná-la um ritual anual, abandonado a habitual entrevista televisiva a 14 de julho, dia nacional de França.

Elementos do seu gabinete comentaram ao jornal Le Monde que o Presidente tem um "pensamento demasiado complexo" para o modelo pergunta-resposta dos jornalistas.

"Subjugação" ao Presidente

Na Assembleia, o partido de Macron, a República em Marcha, e os seus aliados, já lideram todos os gabinetes da instituição, sendo que é tradição algum ser atribuído à oposição.

"Tal concentração em benefício da Presidência, que exerce a tutela sobre o primeiro-ministro, o governo, o partido maioritário na Assembleia, é uma característica do macronismo que se está a estabelecer", diz o analista Pascal Perrineau, do centro de investigação política Cevipof.

"No seu livro 'Revolução', Emmanuel Macron dizia querer restabelecer a Presidência da República em todo o seu esplendor, mas falava também num funcionamento equilibrado com o Governo. Ora, rapidamente, está a estabelecer não um equilíbrio mas uma subjugação", comenta o especialista.

O ex-candidato do Partido socialista às Presidenciais Benoît Hamon denuncia hoje, no jornal Libération, "um poder autoritário, hipercentralizado e concentrado nas mãos de um homem", Macron, que classifica como "liberal-autoritário".

À imagem de um Presidente norte-americano

"O Presidente sabe que a sua maioria [no Parlamento] é frágil (...) e coloca em ação um tipo de funcionamento diferente, como o de uma empresa: um patrão com o seu 'conselho de administração', jovens quadros e funcionários. Uma conceção americana, uma das fontes do macronismo", constata o analista político Pascal Perrineau.

O historiador Christian Delporte tem a mesma ideia. "A inspiração vem dos Presidentes americanos, sobretudo de Obama - até como a sua foto oficial", revelada esta semana.

Para o ensaísta Guy Sorman, em artigo de opinião no Le Monde, "o macronismo é a materialização de uma paixão francesa: o despotismo esclarecido, de Bonaparte a de Gaulle, a busca pelo salvador".

E será que esta concentração de poderes põe em causa a popularidade de Macron? As sondagens são contraditórias.

Um estudo da ViaVoice, revelado ontem, mostra uma subida de 4 pontos desde o fim de maio, com 53% de opiniões favoráveis.

Para Ipsos Game Changer e Kantar Sofres OnePoint, que publicaram sondagens na quarta-feira, Macron baixou de 1 a 3 pontos, com 45% ou 54% de opiniões favoráveis.

Emmanuel Mcron foi eleito Presidente da República a 7 de maio, com 66,1% dos votos. Nas legislativas, o seu partido República em Marcha só conseguiu 32,32% dos votos.

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