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Nove detidos na Turquia após ataques a sede do partido pró-curdo

As autoridades turcas anunciaram este domingo a detenção de nove pessoas após os ataques, no sábado e madrugada de domingo, contra sedes do Partido Democrático dos Povos (HDP, pró-curdo), por manifestantes nacionalistas.

Os ataques ao partido pró-curdo, que aglutina diversos setores da esquerda turca e é a terceira força política no parlamento de Ancara, teve como pretexto o atentado suicida de sábado em Kayseri (centro do país), que provocou a morte de 14 soldados e dezenas de feridos, e foi de imediato atribuído, pelas autoridades, ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Algumas horas mais tarde, dezenas de manifestantes nacionalistas atacaram a sede do HDP nessa cidade e, depois de terem saqueado as instalações, hastearam no cimo do edifício a bandeira vermelha com três crescentes do Partido de Ação Nacionalista (MHP), também representado no parlamento.

As violências prosseguiram na noite de sábado para domingo, com responsáveis do HDP a referirem que 20 das suas sedes ou delegações foram atacadas por todo o país, algumas pilhadas, completamente destruídas ou incendiadas por grupos conotados com os nacionalistas turcos da direita radical.

Em Istambul, uma das suas sedes foi atacada com bombas ensurdecedoras, enquanto cerca de 100 balas foram disparadas sobre outra delegação do partido.

Os nove detidos são suspeitos de terem participado nestas dois ataques.

O HDP, que tem desmentido qualquer ligação com o PKK e condenou firmemente o atentado de sábado, acusou as autoridades de permitirem esta vaga de violência contra a formação pró-curda.

"Estão a ser criadas as condições para um conflito ou uma tentativa de golpe de Estado", considerou o porta-voz do partido, Ayhan Bilgen, antes de pedir aos militantes e apoiantes para não responderem às provocações.

A Turquia tem sido palco de diversos atentados, em particular desde a primavera de 2015, na sequência do reinício do conflito curdo e os combates na vizinha Síria onde Ancara conduz operações contra os 'jihadistas' do Estado Islâmico (EI) e os grupos curdos.

Atualmente, o HDP atravessa uma situação do ostracismo no parlamento e com numerosos cargos suspensos, após ter garantido seis milhões de votos nas legislativas de junho de 2015, tornando-se na terceira força política do país.

Atualmente 12 dos seus deputados estão em prisão preventiva, 40 municípios que controlavam foram ocupados por elementos pró-regime e mais de 500 dos seus membros foram detidos nas últimas semanas, após as acuações de vínculos com a guerriha curda do PKK, que o partido continua a rejeitar.

No início de novembro, os dois dirigentes do HDP, Selahattin Demirtas e Figen Yüksekdag, foram detidos, mas os apelos a protestos de rua contra a vaga de prisões e a repressão acabaram por não ter êxito.

Lusa

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