A informação foi prestada à Lusa por um dos quatro advogados de defesa, David Mendes, acrescentando que a audição de professor universitário Domingos da Cruz, autor de um livro que segundo a acusação esteve na origem dos atos preparatórios em causa, iniciada na quinta-feira, ainda não terminou.
"O juiz decidiu que o livro deveria ser lido durante o julgamento. Estivemos nisso na quinta-feira durante a tarde, hoje de manhã e parte da tarde e depois o juiz não fez nenhuma pergunta sobre o livro. A audição do autor continua na segunda-feira", criticou o advogado.
O julgamento tinha sessões diárias marcadas para toda esta semana e, por decisão do juiz, segundo David Mendes, continua na próxima semana, entre 23 e 27 de novembro, na 14.ª Secção do Tribunal Provincial de Luanda, em Benfica, sem a presença de jornalistas.
Dos 17 arguidos em julgamento, acusados da coautoria de atos preparatórios para uma rebelião e um atentado ao Presidente angolano, crime punível com até três anos de prisão, 15 estão em prisão preventiva desde junho.
Segundo a acusação, estes jovens ativistas reuniam-se aos sábados para discutir as estratégias e ensinamentos da obra "Ferramentas para destruir o ditador e evitar uma nova ditadura, filosofia da libertação para Angola", do professor universitário Domingos da Cruz - um dos arguidos detidos -, adaptado do livro "From Dictatorship to Democracy", do norte-americano Gene Sharp, inspirador das chamadas "Primaveras Árabes".
Depois de inquirido na quinta-feira durante a manhã e hoje durante a tarde, o autor do livro (lido durante um dia por um oficial de justiça durante o julgamento), Domingos da Cruz, ainda será ouvido na segunda-feira pelo Ministério Público e pela defesa, perante as críticas dos advogados, que denunciam uma postura "dilatória".
A pedido da defesa, apenas os arguidos que já prestaram declarações e o que deverá ser inquirido no próprio dia são agora transportados da hospital-prisão de Luanda para o tribunal, para evitar o desgaste antes do testemunho.
"Todos os dias são obrigados a acordar às 04:00, para chegarem ao tribunal às 06:00. Até do ponto de vista emocional é desgastante e podiam depois fazer depoimentos que não seriam favoráveis", explicou ainda o advogado David Mendes, acrescentando que o tribunal acolheu esta pretensão, que já está a ser colocada em prática.
Na origem deste processo esteve uma operação policial desencadeada a 20 de junho de 2015, quando 13 ativistas angolanos foram detidos em Luanda, em flagrante delito, durante a sexta reunião semanal de um curso de formação de ativistas, para promover posteriormente a destituição do atual regime, afirma a acusação.
Outros dois foram detidos nos dias seguintes, no âmbito do mesmo processo.
Duas jovens foram constituídas arguidas em agosto, mas encontram-se em liberdade provisória.
Os advogados de defesa insistem na libertação dos arguidos em prisão preventiva - conforme a lei prevê para este tipo de crime -, e afirmam que a ação destes jovens, com idades entre os 18 e os 33 anos, se enquadra na liberdade de expressão e reunião.
O julgamento é retomado pelas 09:00 locais (08:00 em Lisboa) da próxima segunda-feira e os jornalistas só estão autorizados a assistir às alegações finais e à leitura da sentença, que ainda não estão agendadas.
Lusa