Dezenas de milhares de pessoas fugiram da República Centro-Africana
A agência da ONU para os Refugiados estimou hoje que dezenas de milhares de pessoas fugiram de suas casas para "escapar a assassínios, violações e pilhagens" por milícias na República Centro-Africana, onde aumentou a violência nas últimas semanas.
De acordo com o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), desde o início do ano, cerca de 30.000 pessoas deixaram as suas casas e encontraram refúgio dentro da República Centro-Africana (RCA), enquanto mais de 20.000 fugiram para a vizinha República Democrática do Congo, desde dezembro.
"Há total anarquia e a população está presa no meio" do conflito, disse hoje aos jornalistas a porta-voz do ACNUR, Karin Gruijil.
Falando aos jornalistas em Genebra, Karin Gruijil afirmou que o êxodo é o mais recente exemplo da instabilidade e violência que há muito tempo abala a RCA, palco de violências inter-religiosas desde que o Presidente François Bozizé foi afastado do poder, em março de 2013, por uma coligação predominantemente muçulmana, a Séléka.
Em janeiro, um mediador queniano anunciou que os ex-rebeldes Séléka e as milícias 'anti-Balaka' da RCA chegaram a um acordo de cessar-fogo durante negociações que decorreram com discrição num hotel de Nairobi, capital do Quénia.
Mas, as operações militares recentes contra o grupo Séléka na cidade mineira oriental de Bria alastraram o conflito para as aldeias vizinhas após os ex-rebeldes terem retaliado aos ataques das forças governamentais.
"A população denunciou que as suas residências estão a ser queimadas e que elas não têm alternativa senão abandonar o país", afirmou a porta-voz da agência das Nações Unidas para os Refugiados, salientando que, se ficarem, "correm o risco de serem torturados ou mortos e as mulheres serem violadas" pelos rebeldes.
Desde 15 de fevereiro, cerca de 2.400 refugiados - a maioria delas crianças - têm atravessado a República Democrática do Congo, disse Gruijl, assinalando que equipas do ACNUR têm conhecimento de "situações alarmantes de violação sexual" protagonizados por milícias na República Centro-Africana.
Karin Gruijil destacou casos de violação de três refugiadas sequestradas na zona fronteiriça com o Congo e levadas de volta para a República Centro Africana.
"Uma rapariga que conseguiu escapar contou-nos que foram violadas. As outras ainda estão desaparecidas", acrescentou Gruijl.
"Tememos que haja muitos mais casos não notificados", acrescentou o funcionário da ONU, sublinhando a necessidade de retirar os refugiados para locais mais distantes das zonas fronteiriças com a República Democrática do Congo.
As Nações Unidas estimam que grande parte dos refugiados estão a viver nos Camarões, Chade, República Democrática do Congo e República do Congo.
Lusa
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