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População em fuga depois de novos combates perto de Donetsk

Novos combates entre forças ucranianas e separatistas pró-russos causaram hoje danos às portas de Donetsk, principal bastião dos rebeldes em quase estado de sítio, obrigando os habitantes a fugir em grande número.

Uma grande parte da população civil já abandonou a cidade, cujas ruas estão agora desertas e a maioria das lojas fechada. 
© Sergei Karpukhin / Reuters

Explosões são ouvidas regularmente, provenientes da zona de Marinka,  na periferia sudoeste da cidade, de onde se elevam colunas de fumo, noticiou  a agência de notícias francesa, AFP. 

Em comunicado, a câmara municipal de Donetsk indicou que um bairro do  oeste da cidade foi hoje palco de intensos combates, tendo os habitantes  relatado fortes explosões e tiroteios. 

"Intensos combates fizeram estragos às 17:00 (15:00 em Lisboa) no distrito  de Petrovski", no extremo ocidental da cidade, referiu a autarquia, acrescentando  que está a "verificar as informações sobre vítimas civis".  

Segundo a mesma fonte, as salvas de morteiro disparadas toda a noite  danificaram uma estação elétrica de um bairro de Donetsk vizinho de Marinka,  privando de eletricidade cerca de 50 habitações.  

Os combates intensificaram-se há vários dias em torno de Donetsk, a maior cidade da bacia carbonífera de Donbass - com um milhão de habitantes  antes das hostilidades -, fazendo temer um assalto com combates particularmente  mortíferos. 

Em Kiev, um porta-voz militar confirmou que as forças ucranianas se  "aproximaram" dos bairros periféricos de Donetsk e de outro bastião separatista,  Lugansk. 

"Isso não quer dizer que esteja em curso um assalto, por enquanto, trata-se  de preparar a libertação da cidade", disse Andri Lyssenko à imprensa. 

A estratégia até agora definida por Kiev consiste em isolar os rebeldes  em Donetsk até se esgotarem os seus recursos. 

O objetivo é intersectá-los na fronteira russa, por onde entram, de  acordo com as autoridades ucranianas e ocidentais, armas e combatentes,  o que explica as sanções económicas sem precedentes impostas à Rússia. 

Na segunda-feira, o estado-maior ucraniano apelou aos civis para fugirem das zonas rebeldes e criou "corredores humanitários" para esse efeito em  Donetsk, onde pediu aos rebeldes que respeitassem um cessar-fogo.  

"Não deteremos ninguém, toda a gente é livre de fugir", afirmou hoje um rebelde num posto de controlo situado numa das artérias da cidade, onde  a AFP viu dezenas de veículos transportando, nomeadamente, pessoas idosas.

Uma grande parte da população civil já abandonou a cidade, cujas ruas estão agora desertas e a maioria das lojas fechada. 

Segundo números hoje divulgados pela ONU, pelo menos 285.000 pessoas fugiram do leste da Ucrânia, na maioria (168.000) em direção à Rússia, e  o movimento de deslocação tem-se intensificado, alcançando 1.200 pessoas  por dia nas últimas duas semanas. 

As autoridades locais ucranianas registaram, até agora, 117.000 pessoas procedentes dessa região do país, precisou hoje, em Genebra, o Alto-Comissariado  das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). 

Contudo, para Vincent Cochetel, diretor do gabinete europeu do ACNUR,  "trata-se de estimativas baixas", na medida em que a maioria dos homens  que foge não se regista, por medo de serem alistados no exército ucraniano  e enviados para a zona de conflito". 

O número de 285.000 pessoas deslocadas representa, no entanto, um aumento  de 24 por cento em relação à estimativa apresentada no mês passado. 

"Segundo as autoridades russas - e nós pensamos que os números delas  são credíveis -, há cerca de 730.000 ucranianos que atravessaram a fronteira  para a Rússia desde o início do ano", declarou Cochetel à imprensa. 

"Não os consideramos a todos refugiados, 168.000 requereram estatutos  privilegiados, entre os quais o de refugiado, mas não se trata de turistas.  Por vezes, passam a fronteira a pé, com apenas alguns sacos de plástico  como única bagagem", acrescentou o responsável do ACNUR. 

Daqueles que fugiram, 87 por cento são originários das zonas rebeldes de Donetsk e Lugansk, e os outros residiam na Crimeia, península anexada  por Moscovo em março. 

O Presidente ucraniano, Petro Porochenko, assegurou hoje que as forças ucranianas procuram "limitar ao máximo as perdas humanas, tanto entre a  população quanto entre os soldados" e que estas recuperaram em dois meses  três quartos do território rebelde. 

Lusa

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