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Colégios maiores e residências universitárias espanholas unidos contra as praxes 

Colégios maiores, residências universitárias  e algumas faculdades espanholas estão desde 2013 unidas na condenação das  praxes, conhecidas em Espanha como 'novatadas', práticas que permanecem  vincadas nas experiências universitárias. 

"É um ciclo vicioso difícil de parar", admite à Lusa Carlos Garcia,  responsável do Conselho de Colégios Maiores Universitários de Espanha. 

"Por isso tentamos com os alunos, com os pais no momento da matrícula,  com as universidades e com os grupos políticos para reformar leis que estão  obsoletas e para endurecer as sanções", explicou.  

No intuito de combater o problema das praxes estão em curso em Espanha  várias iniciativas, nomeadamente dentro do próprio espaço universitário,  para consciencializar, informar e travar uma prática cada vez mais criticada.

Uma das iniciativas mais recentes data do arranque do ano letivo em  curso, em setembro, quando cerca de 160 colégios maiores, residências universitárias  e várias faculdades, incluindo a Complutense de Madrid, a de Navarra e a  de Saragoça, se uniram num manifesto contra as praxes. 

O texto baseia-se numa investigação levada a cabo em várias universidades,  que descreve o fenómeno e sugere ações para combater o problema. 

"Estamos totalmente empenhados em combater isto, para que as praxes  desapareçam do âmbito académico", disse Carlos Garcia, recordando que desde  a aprovação do manifesto foram expulsos vários alunos, por praxes, de vários  colégios maiores. 

Igualmente empenhados em combater as praxes está a plataforma "nomasnovatadas",  (não mais praxes) criada na Corunha (Galiza) em 2011 uma semana antes de  um dos casos mais graves, do passado recente, de praxes em Espanha. 

Em outubro de 2011 três estudantes recém-chegados ao Colégio Maior San  Agustín, em Santiago de Compostela, tiveram que ser hospitalizados com graves  lesões nos olhos depois de lhes terem lançado à cara um detergente muito  corrosivo durante uma praxe. 

Humilhação, acosso, relações de domínio-submissão e práticas perigosas,  incluindo obrigar os jovens a beber, fazem hoje parte da realidade das praxes  em Espanha que investigadores consideram uma forma de bullying. 

Loreto González, a psicóloga que fundou a plataforma "nomasnovatadas"  reconhece a dificuldade de combater o problema e que apesar "de haver cada  vez mais vozes críticas" quando começar o novo ano letivo, em setembro "voltaram  os casos de abusos e de vexações". 

"Temos que atuar de duas formas, com medidas de tipo educativo, que  são fundamentais, mas demoram muitos anos e com mais normas e leis que impeçam  que estes atos se cometam com total impunidade", disse à Lusa. 

"É da responsabilidade de uma sociedade ensinar aos jovens que as nossas  ações têm consequências. Estas foram práticas consentidas durante muitos  anos mas não têm sentido hoje em dia", considerou. 

Ainda que as praxes não estejam tipificadas como crime no Código Penal,  os críticos dessa prática referem o artigo VII da lei espanhola que prevê  penas de prisão de até seis meses para quem "inflija a outra pessoa um trato  degradante, menosprezando gravemente a sua integridade moral". 

Estabelece ainda penas idênticas para quem "prevalecendo-se da sua relação  de superioridade, realize contra outro de forma reiterada atos hostis ou  humilhantes que, sem chegar a constituir trato degradante representem grave  acosso contra a vítima". 

Referências ao estatuto do universitário, à Constituição espanhola e  até à declaração Universal dos Direitos Humanos são usados pela "nomásnovatadas"  para defender alterações à prática e sanções e penas mais duras. 

"As leis estão obsoletas, completamente desatualizadas. Em alguns casos  datam de 1958. Por isso ficamos limitados a tentar que as vítimas denunciem  os casos. Recorram às residências ou ao Defensor do Universitário", disse  Carlos Garcia. 

"Não podemos continuar a permitir estes abusos", afirmou. 

Lusa

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