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ETA anuncia fim definitivo da acção armada, depois de 858 mortes em 50 anos

A ETA, organização terrorista que defende o separatismo basco, anunciou hoje que "decidiu o fim definitivo da sua ação armada", depois de mais de meio século de violência e ter causado a morte a 858 pessoas.

gara.net

O comunicado, difundido através do jornal basco Gara, surge dois dias  depois de um apelo nesse sentido dos participantes numa conferência internacional  sobre o fim da violência no País Basco. 

Uma hora depois desse anuncio, o presidente do Governo espanhol, José  Luis Rodríguez Zapatero, fez uma declaração no Palácio da Moncloa, sede  do Governo onde considerou que apesar da "contenção a que a história obriga",  a Espanha pode viver hoje "a satisfação pela vitória da democracia, da lei  e da razão".  

Uma satisfação "com a memória inesquecível da dor causada por uma violência  que nunca deveria ter ocorrido e que não volvera nunca", afirmou. 

O anúncio da ETA ocorre exatamente um mês antes das eleições gerais  espanholas, voltando a centrar assim o tema do terrorismo na agenda eleitoral  espanhola. 

O comunicado foi já criticado por ignorar as vítimas do terrorismo e,  para várias forças políticas, ficou aquém do esperado, já que a ETA deveria  anunciar a sua dissolução imediata e entregar as armas. 

Essa foi uma das posturas de Mariano Rajoy, líder do Partido Popular  (PP), que numa declaração na sede do partido, afirmou que a cidadania só  ficará tranquila quando ocorrer a "dissolução e completo desmantelamento"  da ETA. 

"Acolhemos com satisfação a decisão da ETA renunciar definitivamente  à violência. É uma boa notícia que tenhamos conseguido que a ETA renuncie  a impor o seu projeto político pela morte, medo, violência e execução",  disse. 

"Depois de ter causado tanto sofrimento e dor a tantas pessoas inocentes,  são boas noticias que a ETA diga que não voltará a atentar contra a vida  e contra o direito das pessoas. É um passo importante, mas a tranquilidade  só estará completa quando ocorrer a dissolução e o completo desmantelamento  da ETA", afirmou. 

No seu comunicado, a ETA "faz um apelo aos governos de Espanha e França  para abrir um processo de diálogo direto que tenha por objetivo a resolução  das consequências do conflito e, assim, a superar a confrontação armada.  A ETA com esta declaração histórica mostra o seu compromisso claro, firme  e definitivo". 

A organização sublinha que se está "perante uma oportunidade histórica  para dar uma solução justa e democrática ao secular conflito político. Contra  a violência e a repressão, o diálogo e o acordo devem caracterizar o novo  ciclo". 

O anúncio surge 51 anos depois da primeira vítima mortal da ETA, a menina  Begoa Urroz, vítima de um atentado à bomba em San Sebastián a 27 de junho  de 1960. 

Desde então, a ETA foi responsável por outras 857 mortes, a última das  quais a do polícia francês Jean-Serge Nerin, morto num tiroteio com membros  da ETA a 16 de março de 2010. 

Além de civis, a ETA foi responsável pela morte de militares, policias,  políticos, juízes e procuradores. 

Um dos seus atentados com maior repercussão foi a 20 de dezembro de  1973 no centro de Madrid, quando assassinou o presidente do governo e mão  direita de Francisco Franco, o almirante Luis Carrero Blanco. 

O atentado mais sangrento das ações de ETA foi o de Hipercor, em Barcelona,  em 1987, e nele perderam a vida 21 pessoas. 

Lusa

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