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O primeiro rascunho da História por vezes está errado: jornalistas pensam o futuro das notícias na Web Summit

Porque não confiam as pessoas nas notícias? Quatro jornalistas tentaram responder a estas questões no debate que decorreu esta terça-feira no palco principal da Web Summit, em Lisboa.

Jose Fernandes

Pedro Carreira Garcia

O jornalismo é muitas vezes referido como o primeiro rascunho da História. Mas "o primeiro rascunho da história por vezes está errado", segundo Alessandra Galloni, jornalista da Reuters, e os jornalistas devem reconhecê-lo e corrigi-lo, disse no debate "Why Don't People Trust the News?" (Porque não confiam as pessoas nas notícias?), que decorreu esta terça-feira no palco principal da Web Summit, em Lisboa.

A conversa, que contou com Kat Downs Mulder, jornalista do Washington Post, e Daniel Klaidman, da Yahoo News, moderada pela repórter Erika Allen, da Vice Media, focou-se no dilema de perda de confiança de alguns públicos face aos meios de comunicação e na forma de recuperar essa confiança.

Klaidman considera que os media são "parte de um fenómeno mais largo de desconfiança nas instituições", em específico "instituições de elite, a forma como os media são percepcionados". A recuperação da confiança "não vai acontecer rapidamente" e "não vai depender apenas do que os media fazem", acrescentou.

Para Galloni, "numa altura em que há esta polarização, dizer claramente as coisas" e "e ouvir os diferentes lados" são vantagens que permitiram à Reuters, que faz jornalismo de agência com o estilo correspondente, manter um certo nível de confiança, disse.

É importante "reconhecer quando cometemos erros", segundo Galloni, já que "o primeiro rascunho da história por vezes está errado" e os repórteres devem reconhecê-lo e corrigi-lo. Critica também os jornalistas que "muitas vezes se posicionam eles mesmos como a história", quando "devemos pôr os outros na história". E apela a que as redações sejam mais diversas: "os media não se parecem com as pessoas cuja cobertura fazem. É por isso que não parecemos credíveis. As redações devem ser mais as pessoas que cobrimos".

Entretanto, Klaidman alerta que as métricas utilizadas hoje em dia para asseverar o sucesso, ou falhanço, de um conteúdo são um terreno movediço. "Os incentivos são cliques", reconhece. "As emoções ajudam" a fazer com que os conteúdos noticiosos cheguem a mais pessoas e obtenham os tão desejados cliques, "mas temos de ser disciplinados".

"Vivemos numa era em que os factos estão sob ataque (...), temos de encontrar formas de encorajar as pessoas a abraçar os factos", diz. E "uma das formas é ouvir as pessoas e ser capaz de contar as suas histórias".

Mulder, do Washington Post, concorda que "as métricas podem levar-nos a uma direção errada" e que é necessário "fazer mais" para "ajudar as pessoas a compreender" que "a informação tem valor, não é uma commodity". O que acabaria por fazer com que o público reconhecesse que deveria pagar por ela. Daí ser tão importante, disse Mulder, "desenvolver conexões autênticas com os públicos, ir aos sítios onde estão, e explicar quem somos e como fazemos".

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