O ativista moçambicano Wilker Dias considerou que o povo moçambicano está “saturado” da situação política em que se encontra o país, num contexto em que se procura “aquela que é a reposição da verdade eleitoral”.
O oitavo dia de greve geral em Moçambique, convocada pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, foi marcado por novos protestos em Maputo contra o resultado das eleições gerais, em que a polícia utilizou gás lacrimogéneo contra manifestantes que queriam chegar ao Palácio Presidencial.
Wilker Dias afirmou que, para além do povo estar “saturado por conta de questões políticas verificadas no ano passado”, em que se verificaram irregularidades no processo eleitoral que também culminaram em manifestações de larga escala, a situação atual "toma proporções diferentes” das anteriores.
“Este ano tomou proporções diferentes em termos manifestações, até a nível dos próprios distritos, porque as pessoas precisavam de uma liderança, que inclusive já existe, que é a própria figura do Venâncio Mondlane. As pessoas acatam aquilo que é dito".
Apesar do ativista moçambicano acreditar que ainda existe um controlo da situação pela parte de Mondlane, Wilker Dias acrescentou que é necessário uma “melhor organização a nível setorial”, isto é, em termos dos bairros e das cidades, “para que se possa traçar objetivos, desenhados com ainda mais precisão”.
Quando questionado pela SIC sobre a duração dos tumultos em Moçambique, Wilker Dias respondeu que “só o próprio Venâncio Mondlane poderá responder a esta questão”, porque, acima de tudo, “ele é quem convoca as massas”.
“Acredito que o seu objetivo deve ser mesmo até que se alcance aquela que é a reposição da verdade eleitoral, que é evocada por todos os cantos a nível de Moçambique, que é extremamente notório numa altura destas.”, explicou.
O ativista acredita que utilizar a força popular ou a insatisfação para “que se reponha a verdade”, embora possa não ser “a expressão correta”, pode funcionar. Contudo, considera necessário que “se busquem outros caminhos em simultâneo” para tal, nomeadamente “vias mais democráticas”.
Em relação aos confrontos violentos que envolveram a população e a polícia moçambicana na quinta-feira, Wilker Dias prognostica que “o excesso de violência não foi algo verificado ao longo do dia de ontem, mas ao longo de todos os dias de manifestação".
“A polícia quando sai à rua não é para automaticamente tentar acalmar e proteger os manifestantes”, disse, acrescentando que “está pronta a disparar balas reais à população”
Pelo menos três mortos e 66 pessoas ficaram feridas durante confrontos entre manifestantes e a polícia na quinta-feira, existindo também relatos de lojas saqueadas e de carros incendiados.
“Aproximadamente mais de 700 prisões ou detenções são arbitrárias, sendo que isto acaba por pesar para aquela que é a própria atuação da polícia, que, por um lado, pede marchas pacíficas, mas do outro lado continua a disparar e a matar a população moçambicana.”, refletiu o ativista moçambicano.
Sem dizer onde se encontra, Venâncio Mondlane afirmou numa ‘live’ da rede social Facebook que não está a participar nas marchas porque o povo lhe pediu. “Não estou aí nas marchas porque o povo pediu. O povo ordenou: ‘Venâncio não sai de onde você está’. Estou a cumprir o que o povo me está a obrigar a fazer”, justificou.