Violência em Moçambique

Maputo: "Ouvimos tiros, gritos", portuguesa obrigada a regressar lamenta falta de apoio da embaixada

Inês Claudino, médica pediatra portuguesa que reside em Maputo com a família, dá conta de uma "escalada enorme de violência", de carência de bens essências e de isolamento, que obrigou à decisão de regressar a Portugal.

SIC Notícias

Um protesto contra a vitória da Frelimo nas presidenciais moçambicanas tem lugar esta quinta-feira. A oposição não reconheceu os resultados das eleições e desafiou a população a uma paralisação de sete dias, que termina com esta manifestação. Nas últimas semanas, têm-se somado protestos violentos nas ruas que já obrigaram à intervenção da polícia. Obrigada a regressar a Portugal devido ao ambiente de tensão e violência, Inês Claudino, médica a viver em Maputo, lamenta a falta de apoio e de informação por parte da embaixada portuguesa.

“Estamos um bocadinho deixados ao deus-dará, como se costuma dizer e foi por essa situação que a minha família, perdendo contacto com tudo, não havendo víveres, água”, motivos que levaram a pediatra portuguesa, marido e uma filha de 5 anos a regressarem a Portugal.

“Começámos a ter restrições nas comunicações, eu na segunda-feira já não tinha acesso à internet”, explica Inês Claudino, em entrevista na SIC Notícias.

“Incêndios nas estradas, pneus queimados, nós realmente sentimo-nos muito, muito isolados, não tivemos nenhuma informação da parte da embaixada. O único comunicado que veio foi no dia 6, ontem, que dizia que devíamos ter cuidado, que havia problemas ocasionais, que realmente não são verdade. Eram problemas que estavam à vista de toda a Gente, e de uma forma mais continuada. E, que ficássemos dentro de casa, quando já estávamos dentro de casa há uma semana”, lamenta.

Regressada a Portugal, Inês Claudino continua a ter contacto com outros portugueses que ainda estão lá e garante que continuam a não ter mais respostas até hoje.

A médica portuguesa descreve a forma como a situação evoluiu: “Houve uma escalada de violência, de tensão. As eleições foram no dia 9 de outubro e, quando souberam os resultados, 15 dias depois, começámos logo a ver paralisações no centro da cidade e sobretudo nos bairros nos arredores da cidade de Maputo”.

“Foi cada vez mais aumentando esta tensão e também houve muitas restrições ao movimento. Eu sou pediatra, claro que tive que cancelar todas as minhas consultas presenciais. Não fazia sentido fazer com que as crianças passem por este por este tipo de violência", acrescenta.

“Eu não morava propriamente no centro da cidade, todas as manifestações passavam pelo sítio onde eu estava, ouvimos tiros, ouvimos gritos”, relata Inês Claudino

A médica pediatra dá também conta de uma situação crítica na área da saúde, diz que há profissionais a viverem nos hospitais para conseguirem trabalhar.

Esta terça-feira, teve lugar um protesto dos profissionais de saúde, “a única manifestação que realmente chegou ao coração de Maputo”.

Foi também “a única manifestação em que não houve violência, em que não houve gás lacrimogéneo, e vemos que os profissionais de saúde que o lema é ‘o nosso maior valor é a vida’, estavam ali para para fazer sentir que nós, os profissionais de saúde, estamos ao lado do povo”, afirma Inês Claudino.

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