Dois dos nove jornalistas de uma rádio comunitária de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, continuam desaparecidos, depois de há duas semanas terem fugido com a família para as matas, anunciou esta segunda-feira uma associação de direitos humanos.
"Até ontem [domingo], dois continuavam nas matas, sem comunicação e sem meios de sobrevivência", de acordo com um comunicado da Rede Moçambicana de Defensores dos Direitos Humanos.
A fuga aconteceu na sequência de um ataque no dia 31 de outubro, em que atacantes invadiram as instalações da Rádio Comunitária São Francisco de Assis, que funciona numa igreja em Muambula, distrito de Muidumbe.
"O ambiente de insegurança que se vive em quase todo o distrito de Muidumbe está a dificultar a deslocação dos jornalistas e das suas famílias para os distritos relativamente seguros, como Mueda e Montepuez", acrescentou.
Por outro lado, a rede sublinhou que o ataque à rádio "representa um revés no exercício do direito à liberdade de imprensa e do direito à informação".
A organização disse estar disponível para "prestar apoio aos jornalistas e outros defensores dos direitos humanos vítimas da insurgência armada em Cabo Delgado" e apelou ao Governo para um reforço de medidas de segurança e proteção da população.
Na sexta-feira, a Conferência Episcopal de Moçambique (CEM) classificou como "crítica" e "muito instável" a situação no distrito de Muidumbe, de onde emergiram há semana e meia relatos de assassínios que incluem decapitações.
A violência armada está a provocar uma crise humanitária com cerca de duas mil mortes e 435 mil pessoas deslocadas para províncias vizinhas, sem habitação, nem alimentos suficientes, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.
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"Forças de segurança no terreno têm muitas limitações"
Pedro Vicente, professor na Nova SBE e diretor científico do centro NOVAFRICA, defendeu este domingo no Jornal 22|01 da SIC Notícias defende que o Governo moçambicano quer resolver o problema da violência no Norte do país, mas as forças de segurança no terreno "têm muitas limitações".
Lamenta que Moçambique não permita uma abertura à ajuda internacional mais capacitada e abrangente "do ponto de vista militar e de desenvolvimento para o país".