Tragédia em Pedrógão Grande

Memorial de Pedrógão é um "alerta de que o passado pode repetir-se"

Na homenagem às vítimas dos incêndios de Pedrógão Grande, o primeiro-ministro alertou que o passado corre sempre o risco de se repetir. Já Marcelo Rebelo de Sousa salientou que é necessário aprender a “lição do passado. É preciso olhar para esta água, que é vida. Vida significa que recordamos o passado, mas olhamos para o futuro”.

António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa na homenagem às vítimas dos incêndios em Pedrógão Grande, em 2017
PAULO NOVAIS

Mariana Saraiva

Lusa

Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa marcaram presença na cerimónia de inauguração do memorial em homenagem às vítimas dos incêndios de 2017, em Pedrógão Grande.

O primeiro-ministro, António Costa, salientou que o memorial representa um "alerta de que o passado corre sempre o risco de se repetir", apontando que "é dever do Estado prevenir esse risco".

"Este memorial representa um alerta. Alerta de que o passado corre sempre o risco de se repetir e que Portugal é um país particularmente exposto aos riscos das alterações climáticas", disse, salientando que "é dever do Estado de prevenir esse risco e preparar-se para enfrentar esse risco", ainda que exija "a mobilização de toda a sociedade".

O primeiro-ministro destacou que o memorial não pretende apenas "evocar a memória daqueles que partiram", mas também "daqueles que foram vítimas dos trágicos incêndios" e este é "sinal de respeito pelos familiares e pelos que sobreviveram, que carregam consigo as marcas da tragédia".

Este memorial, concluiu António Costa, "é um grito de alerta para o país saber que desta água que renasce nesta fonte, nasce a consciência coletiva de saber que o risco existe e que temos todos os dias de trabalhar para o enfrentar".

“Via-se Pedrógão a arder”

Marcelo Rebelo de Sousa começou a sua intervenção a saudar todas as vítimas e sublinhando que a obra de “Souto Moura soube traduzir aquilo que todos escreveram”.

Durante o discurso recordou o fatídico 17 de junho 2017, relembrando que enquanto percorria o IC8 tinha uma “sensação de impotência”.

"Via-se Pedrógão a arder. Sabia-se que esta estrada estava a arder, mas não havia acesso"

As forças de segurança perderam as comunicações, “mas, depois houve capacidade de resposta, difícil, lenta e complicada, e a descoberta do que nos esperava e esperava aos familiares”.

"Há que aprender a lição do passado. É preciso olhar para esta água, que é vida. Vida significa que recordamos o passado, mas olhamos para o futuro", salientou.

É necessário "dar mais um sinal de vida" a esta região

O chefe de Estado defendeu que a celebração do Dia de Portugal em 2024 deveria realizar-se na zona afetada pelos grandes incêndios de 2017, em Pedrógão Grande, considerando que isto seria “dar mais um sinal de vida” à região.

"Esse sinal de vida [para o território afetado pelos fogos] poderia ser (…) a junção de municípios aqui no Centro, para preparar a celebração do Dia de Portugal, tendo como ponto principal estes três municípios [Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos] , mas abrangendo a comunidade intermunicipal", afirmou.

A celebração do 10 de junho na região é "a palavra de esperança (…) que elas e eles que nos deixaram pelos quais tantos ainda choram, merecem que seja mais do que um dia de celebração. Elas e eles merecem. Portugal merece. É o tal sinal de vida que esta água nos quer transmitir", concluiu.

Cuidem de Portugal para que não se façam mais memoriais de futuro

A presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG) apelou aos políticos para que apliquem todas as suas energias na missão de cuidar do país e, dessa forma, evitarem mais memoriais.

"Peço-vos, enquanto elemento da AVIPG, que todas as vossas energias sejam aplicadas na missão para a qual foram eleitos - cuidar de Portugal -, para que não se façam mais memoriais de futuro. Esse é o vosso desígnio e a nossa esperança", afirmou Dina Duarte.

Depois de fazer memória ao ano de 2017, Dina Duarte disse que, passados seis anos, "é neste local que a água" refresca o ser, para sublinhar que “água é vida”.

"Que 27 de junho 2023 seja o virar da página, que as nossas lágrimas sequem para dar lugar à esperança de um país melhor, de um território onde há futuro. Um país onde há memória, porque um país sem memória do passado não constrói futuro promissor", acrescentou.

Membros do Governo deixaram coroas de flores junto ao memorial em honra das vítimas. O Executivo de António Costa fez, também, um minuto de silêncio, antes de uma atuação da Orquestra Clássica do Centro.

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