De visita a São Tomé e Príncipe, para celebrar os 50 anos da independência, o Presidente da República fala pela primeira vez desde que o Governo anunciou a privatização da TAP. Diz que foi previamente informado pelo primeiro-ministro e que Luís Montenegro lhe apresentou o plano ainda antes de o submeter a Conselho de Ministros. Marcelo promete promulgar o diploma.
"Primeiro, salvaguarda a posição dos trabalhadores e, segundo, salvaguarda a prevalência de Portugal e do Estado português, porque é minoritária a parte estrangeira, seja de um ou dois ou três candidatos, os que forem", disse o Presidente da República aos jornalistas.
À semelhança do Governo, Marcelo Rebelo de Sousa também não quer partilhar possíveis valores para a TAP. Segue a mesma estratégia do executivo: manter em segredo a avaliação da empresa, até porque, segundo o Presidente, a TAP vale mais do que um mero valor contabilístico.
O hub estratégico da transportadora aérea portuguesa tem dado muito que falar e é considerado o principal requisito para a venda.
Privatizações pelo mundo
A história das privatizações na Europa difere de país para país. No caso da Alemanha, a Lufthansa seguiu um modelo de privatização faseado, mas antes foi alvo de uma profunda reestruturação. O Estado alemão apenas voltou a interferir na companhia em 2020, na sequência da pandemia. Salvou-a da falência a troco de uma participação de 20%, que entretanto já foi vendida, e sempre se afastou da gestão da empresa a longo prazo.
A Air France, por outro lado, manteve o Estado francês como acionista minoritário. Isso serviu para exercer influência em momentos importantes, como na fusão com a KLM, ou no acesso aos cofres públicos de França, como aconteceu na pandemia.
As duas companhias aéreas já devolveram aos respetivos Estados todo o dinheiro que receberam nos anos trágicos da covid-19 e são duas das interessadas na TAP.
A Alitalia acabou mesmo por ruir depois da pandemia. Já havia sido resgatada pelo Estado sucessivas vezes e foi alvo de várias tentativas de privatização, mas o Estado italiano deixou a empresa falir. Criou outra, mais pequena, em 2021: a ITA Airways. Mais tarde, foi comprada pela Lufthansa, que detém 41% da empresa.
A privatização da TAP vai depender dos valores envolvidos de quem comprar e do acordo parassocial que vai definir os termos da gestão privada. Mas é quase certo que os 3,2 mil milhões de euros que o Estado injetou dificilmente serão recuperados.