Sismo na Turquia e Síria

Sismo na Turquia e Síria: "Temos sempre de nos agarrar à esperança"

João Antunes, diretor-geral dos Médicos Sem Fronteiras, esteve à conversa com a SIC sobre os cuidados médicos prestados na Síria, após o abalo desta segunda-feira. O médico relembra que a Síria já era um país fragilizado e que esta catástrofe veio piorar a situação vivida no país.

Diretor-geral Médicos Sem Fronteiras
SIC Notícias

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O diretor-geral dos Médicos Sem Fronteiras refere que a Síria já tem uma população fragilizada pelo conflito nos últimos anos e que a logística para prestar cuidados médicos é muito complexa quando se acumulam tragédias.

"Nós dentro da Síria já estávamos a trabalhar desde 2009, pela situação do conflito que se foi desenvolvendo e a situação que foi agravada pela COVID, estamos a falar de uma região onde quase metade da população são deslocados, sendo que já era uma população extremamente vulnerável", explicou o diretor.

Para além disso, o convidado da SIC expressou a sua “admiração” pelas pessoas que estão a prestar cuidados de saúde, relembrando dois colegas sírios.

"As nossas equipas não são imunes a isto [mortes], já recebemos noticia que dois colegas sírios que estavam a trabalhar connosco desde 2009 já perderam as suas vidas", lamentou João Antunes.

A logística de organização é o mais difícil, porque não são apenas os resgates que são precisos de equacionar, mas também para onde vão as pessoas que são salvas, como referiu o diretor-geral.

"Ontem, tratámos mais de 3500 pessoas que foram transferidas dos combos para estas unidades que estamos a apoiar, são oito hospitais, 12 centros de saúde, mais equipas que estavam a fazer apoio de água e saneamento a mais de 100 campos de deslocados - tudo isto já era um desafio anterior, só em 2021 prestámos mais de um milhão de consultas, sendo 3000 mil de consultas por dia", expôs.

O médico acrescentou que “o desafio que já vivíamos aqui (...) é agora um desafio muito maior”.

Apesar da situação da guerra na Síria, a logística das tragédias naturais acaba por ser mais caótica, por haver hospitais que também podem estar danificados e até mesmo as estradas bloqueadas, algo que complica a prestação de serviços de saúde.

“Há um pequeno grande desafio: salvam-se as pessoas, mas para onde é que as vamos enviar? Quais é que são os hospitais que estão em funcionamento, são estruturas físicas também e muitos deles podem ter ficado danificados. Estão capacitados de receber estas pessoas? Estas pessoas a sair destes locais é-lhes fácil chegar a estes hospitais?, Há ambulâncias suficientes, as estradas estão transitáveis? - até chegarem as estruturas de saúde, onde estamos prontos, há toda uma tarefa logística que é um trabalho em si mesmo”, explica João Antunes.

Para além da logística para a prestação de cuidados de saúde, há também o abrigo para quem está a salvo, mas não tem casa ou condições higiénicas em que viver

“Temos de pensar que as pessoas que já estão a viver no noroeste da Síria (…) são extremamente vulneráveis, estão a viver um conflito e por alguma razão ou outra ficaram nestes lugares, sendo já pessoas que estão limitadas - a questão da deslocação é mais que as pessoas não estão confortáveis a voltar a suas casas, têm receio que voltem a haver réplicas e, por isso, vão viver na rua, com neve e com temperaturas negativas, nestes cenários e, ainda pior, sem eletricidade, as pessoas vivem nos carros e tendas”, expôs o médico.

Neste sentido, existe o auxilio de socorro que trata que estas pessoas tenham onde dormir, "as suas mantas, colchões, água em quantidade suficiente e qualidade.", algo extremamente importante devido à epidemia da cólera há meses detetada.

Apesar de todo este cenário, o médico insistiu que existe sempre um milagre ou outro, mesmo quando menos se está à espera.

“Temos sempre de nos agarrar à esperança", conclui.

Mais de 20.000 pessoas morreram na sequência do violento sismo que abalou na segunda-feira o sul da Turquia e a Síria, segundo balanços oficiais divulgados esta quinta-feira.

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