O cenário está montado no Campus de Justiça, em Lisboa. É lá que se guarda o gigantesco processo, repartido por três salas com centenas de caixas com documentos, escutas e computadores apreendidos em buscas. Só duas funcionárias judiciais têm acesso direto a estas provas.
Clara Martins, com mais de 30 anos de carreira e quatro dedicados aos processos-crime, é uma delas. Estudou o processo desde o início e conhece-o como poucos. Será ela a apoiar o coletivo de juízas que presidirá ao julgamento.
No sexto piso de um dos edifícios do Campus, a sala principal está pronta. No topo, o banco das juízas; à esquerda, os três procuradores do Ministério Público que acompanham o caso; à direita e à esquerda, 32 lugares reservados para os advogados de defesa. À frente das juízas, outra funcionária judicial que já participou no caso BPN.
Nos bastidores, uma equipa de apoio técnico prepara o sistema informático que permitirá aceder e ouvir, em tempo real, as escutas relevantes. A mesma ferramenta já foi usada noutros megaprocessos, como o BES.
A sala vai acolher um elenco central do que foi, durante anos, o poder económico e político em Portugal: José Sócrates, Carlos Santos Silva, Ricardo Salgado, Henrique Granadeiro, Zeinal Bava, Joaquim Barroca e outros 16 arguidos. O processo remonta a 2013 - passaram já 12 anos. As 50 sessões agendadas apontam para um julgamento longo. A primeira acontece a 3 de julho. Quanto à última? Nem os mais experientes se atrevem a fazer previsões.
"Estou expectante. Acho que todos os portugueses estão à espera que este julgamento comece", confessa Clara Martins.