Mundial feminino

Hermoso desmente Rubiales: "Em momento algum consenti o beijo"

A jogadora reagiu à decisão do presidente da Real Federação Espanhola de Futebol de não apresentar a demissão. Equipa, em solidariedade com a colega, recusa jogar enquanto Rubiales continuar no cargo.

SIC Notícias

Lusa

O mundo desportivo em Espanha continua a ferver com a polémica em torno do beijo roubado por Luis Rubiales à jogadora da seleção espanhola de futebol Jenni Hermoso, durante os festejos da conquista do título no campeonato do Mundo. Depois do presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) ter trocado as voltas a todos e recusado demitir-se, com novas declarações polémicas pelo meio, Hermoso emitiu um comunicado, esta sexta-feira, para vincar a sua posição e desmentir Rubiales.

“Quero esclarecer que em momento algum consenti o beijo que me deu e em caso algum procurei levantar o presidente. Não tolero que se ponha em dúvida a minha palavra e muito menos que se inventem palavras que nunca disse”, afirmou a internacional, de 33 anos, que alinha pelo CF Pachuca, no México.

A atleta desmente desta forma as novas afirmações de Rubiales, que voltou a insistir publicamente que o beijo foi dado com consentimento de Hermoso.

"Foi [um beijo] espontâneo, mútuo, eufórico e consentido, o que tem sido o mote de todas as críticas. Foi consentido, esta jogadora tinha falhado um penálti e eu tenho uma grande relação com todas as jogadoras, fomos uma família durante mais de um mês e tivemos momentos carinhosos durante toda a concentração", justificou o dirigente na intervenção durante a Assembleia.

“Senti-me vulnerável e vítima de agressão”

A internacional espanhola chegou a publicar um segundo comunicado esta sexta-feira, após a seleção feminina recusar-se a jogar enquanto Rubiales não sair.

A jogadora diz que se sentiu “vulnerável” e “vítima de uma agressão”.

“A situação deixou-me em choque pelo contexto de celebração e com o passar do tempo, e depois de aprofundar um pouco mais essas primeiras sensações, sinto a necessidade de denunciar este ato, já que considero que ninguém, em nenhum âmbito laboral, desportivo ou social, deve ser vítima deste tipo de comportamentos não consentidos. Senti-me vulnerável e vítima de uma agressão, um ato compulsivo, machista, fora do lugar e sem nenhum tipo de consentimento da minha parte”, lê-se no comunicado publicado na rede social X (antigo Twitter).

Jenni Hermoso denunciou, ainda, pressões da RFEF.

“Apesar da minha decisão, tenho que manifestar que estive debaixo de pressão contínua para alinhar com alguma declaração que pudesse justiticar o ato do senhor Luis Rubiales. Não só isso, de diferentes maneiras e através de diversas pessoas, a RFEF pressionou-me (família, amigos, colegas de equipa) para que desse testemunho que pouco ou nada tinha a ver com as minhas sensações”, acrescentou.

A jogadora, aliás, desde o início deixou claro que foi surpreendida pelo gesto, que não apreciou. Ainda no balneário, no meio dos festejos, Hermoso deixou escapar como realmente se sentia com a situação, num vídeo que estava a ser emitido em direto na rede social Instagram.

"Não gostei nada (...) mas o que é que eu podia fazer?", disse a uma colega de equipa que a questionou sobre o assunto.

A posição de Hermoso não ficou sem resposta da RFEF que, na noite de sexta-feira, emitiu mais um comunicado. Desta feita, a defender Rubiales, garantindo que este “não mentiu” nas explicações sobre o beijo e a prometer acertar contas na justiça.

Atletas pedem “mudança real” e recusam jogar

As jogadoras da seleção espanhola de futebol uniram-se em apoio a Jenni Hermoso, no comunicado, repudiando as declarações de Rubiales e pedindo uma “mudança real" no desporto e nas suas estruturas. Mais de 50 futebolistas, incluindo Hermoso e todas as colegas que ao seu lado conquistaram o título de campeãs do Mundo, assinaram o comunicado emitido através do sindicato.

“Queremos acabar este comunicado pedindo mudanças reais, tanto a nível desportivo como estrutural, que ajudem a seleção a continuar a crescer, para podermos passar este grande êxito a gerações futuras”, declararam, ao mesmo tempo que condenavam “os comportamentos que atentam contra a dignidade das mulheres”.

Várias atletas anunciaram ainda que vão recusar-se a envergar a camisola da seleção espanhola enquanto Rubiales se mantiver no cargo.

Futebolistas unem-se nas críticas a Luis Rubiales

As críticas a Rubiales multiplicam-se e vários jogadores espanhóis já manifestaram que não voltam a alinhar pela seleção até que este apresente a demissão.

É o caso do avançado internacional Borja Iglésias, que já avisou que não irá representar a seleção enquanto as coisas não mudarem, de modo a que estes tipos de atos não fiquem impunes.

"Como futebolista, como pessoa, não me sinto representado com o que se passou hoje na Cidade do Futebol de Las Rozas. Parece-me lamentável que continuem a pressionar e a colocar o foco numa companheira", escreveu o jogador do Bétis.

Um sentimento que foi partilhado pelo seu colega de equipa e ex-jogador do Sporting Hector Bellerín, com o lateral a considerar vergonhoso o comportamento do presidente da RFEF.

"Representar nosso país com esse nível de vulgaridade, deturpar as declarações da vítima e, ainda por cima, ter a audácia de culpá-la", comentou o defesa, lembrando que o narcisista nunca acredita que cometeu um erro, sendo capaz de mentir e manipular.

Últimas