Qatar 2022

Corrupção e escândalos: a "aposta arriscada" no Qatar que abalou a FIFA

A menos de um mês do início do Mundial, recordamos toda a polémica por detrás da escolha daquele que é considerado o Mundial de futebol mais controverso de sempre.

Michael Probst

André de Jesus

SIC Notícias

Lusa

A FIFA entregou ao Qatar, em dezembro de 2010, com alguma surpresa, ou não, a organização do Mundial de futebol de 2022 e desde logo suspeitas de favorecimento pairaram sobre a candidatura vencedora.

Em Zurique, a escolha do Qatar foi divulgada alguns minutos após a da Rússia para acolher o Mundial em 2018, em detrimento das candidaturas conjuntas de Portugal e Espanha, de Países Baixos e Bélgica e a de Inglaterra. Foram escolhidos dois estreantes na organização da competição.

O então presidente da FIFA, o suíço Joseph Blatter, justificou na altura as escolhas com a aposta em “novos territórios”, mas, anos mais tarde, admitiu que a realização do Mundial no Qatar, primeiro país do Médio Oriente a receber a prova, tinha sido “um erro” - declarações posteriormente corrigidas, assinalando o "erro", mas se a competição fosse disputada no verão.

A escolha do anfitrião geograficamente mais pequeno da história dos Mundiais, que possibilita assistir a mais do que um jogo por dia, não foi unânime, mas superou as candidaturas dos Estados Unidos [14 votos contra oito dos norte-americanos, na última votação], Japão, Coreia do Sul e Austrália, que seria o único estreante.

O Mundial no Qatar levou a que, pela primeira vez, devido às fortes temperaturas verificadas naquela península no Golfo Pérsico nos meses habitualmente escolhidos para a prova, junho e julho, a rondar os 50 graus celsius, a que a prova decorra entre 20 de novembro e 18 de dezembro.

O Qatar tinha pedido à FIFA para fazer uma “aposta arriscada”, insistindo que o calor naquela região do globo não seria um problema, com a promessa de que, com o recurso a tecnologia de ponta, essa condição seria minimizada, quer junto dos jogadores, quer junto dos adeptos.

A FIFA teve também como referências os Mundiais de 1986, no México, de 1994, nos Estados Unidos, e de 2014, no Brasil, onde se verificaram fortes ondas de calor e nem por isso deixaram de ser três dos campeonatos mais bem-sucedidos de sempre.

O peso do dinheiro catari, gerado pelo petróleo e pelo gás, e a abertura de novos mercados para os patrocinadores terão sido decisivos na atribuição da organização da prova, até porque, do ponto de vista desportivo, a seleção de futebol do país, na altura, encontrava-se na 113.ª posição do ranking da FIFA.

As suspeitas de irregularidades e compra de votos em favor da candidatura do rico emirado começaram a ganhar forma logo após a entrega da organização do Mundial ao Qatar e, nos meses que se seguiram ao anúncio da FIFA, várias denúncias e investigações revelaram vias de corrupção.

Algumas das denúncias de subornos para a compra de votos tiveram origem em altos funcionários da FIFA e, em 2014, o Sunday Times revelou documentos em que o presidente da Confederação Asiática de Futebol (CAF) na época, o catari Mohammed Bin Hammam, teria pago cerca de 4,4 milhões de euros em “apoios”.

O processo engrossou quando uma antiga funcionária da candidatura catari admitiu que vários dirigentes africanos receberam cerca de 1,5 milhões de euros para que apoiassem e votassem a favor e o FBI investigou um pagamento de 1,8 milhões ao tobaguenho Jack Warner, na altura líder da CONCACAF e vice-presidente da FIFA, com origem no Qatar.

O avolumar de denúncias de compra de votos em favor do Qatar abalou a estrutura da FIFA, que também conduziu uma investigação interna, e vários responsáveis foram mesmo detidos para averiguações, como o então presidente da UEFA, o francês Michel Platini.

Blatter, em declarações à agência noticiosa AFP, em 2019, implicou ainda na atribuição ao Qatar do Mundial o então Presidente de França Nicolas Sarkozy, que, alegadamente, terá pedido a Platini para apoiar a candidatura.

A acusação de Blatter surgiu após o Sunday Times ter revelado a existência de um acordo de 350 milhões entre a FIFA e o canal Al-Jazeera (reforçado com mais 350 milhões), assinado antes do anúncio, para o alegado pagamento de direitos televisivos, caso o Qatar fosse escolhido como anfitrião do Mundial.

De escândalo em escândalo, e além das práticas de corrupção na compra de votos, o Mundial do Qatar é ainda confrontado com a exploração do trabalho dos migrantes na construção dos estádios e infraestruturas e a violação dos direitos humanos e já não se livra de ser o mais polémico de sempre.

A fase final do Mundial vai ser disputada entre 20 de novembro a 18 de dezembro por 32 seleções. Portugal integra o grupo H, com Uruguai, Coreia do Sul e Gana.

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