Última atualização às 11h05
Segundo o Presidente do Senado, Renan Calheiros, Dilma será informada do afastamento pelo senador Vicentinho Alves, ainda esta manhã. "Constarão as prerrogativas que a presidente manterá enquanto afastada do cargo", disse Renan.
O primeiro secretário seguirá logo após para notificar o vice-presidente Michel Temer.
Na hierarquia prevista pela Constituição, Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados (câmara baixa do Congresso) assumiria as funções de vice-Presidente e também o comando do país quando Temer estiver no exterior ou se, por algum motivo, ficar impossibilitado de exercer o cargo.
Mas como Cunha também foi afastado por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), Renan Calheiros deverá assumir estas funções já que ocupa a terceira posição na hierarquia do Estado.
Em último caso, o comando do Brasil é exercido temporariamente, nas circunstâncias acima previstas, pelo presidente do STF, Ricardo Lewandowski.
Enquanto Temer governar interinamente, o Senado começa a recolher provas e depoimentos para o julgamento final do processo de destituição de Dilma Rousseff. Não existe prazo definido para a conclusão destes trabalhos.
Dilma Rousseff, da luta armada à destituição
Hoje, numa conferência de imprensa às 10h00 de Brasília (14h00 em Lisboa), Dilma despede-se do cargo.
Considerada uma mulher de temperamento forte e com pouca paciência, Dilma, de 68 anos, nasceu na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, numa família de classe média.
Ainda jovem, juntou-se a grupos de esquerda que combatiam a ditadura militar. Trocou de nome diversas vezes, viveu na clandestinidade até ser presa e torturada em 1970. Ao sair da prisão, tornou-se economista e com o regresso da democracia no país, em 1985, teve vários cargos diretivos na esfera pública.
Durante a Presidência de Lula da Silva, ganhou projeção ao ser nomeada ministra da Casa Civil. Em 2009, foi escolhida para a liderança do PT, apresentando-se como candidata a Presidente, no ano seguinte.
Sem nunca se ter sujeito a eleições anteriormente, Dilma Rousseff foi eleita pela primeira vez em 2010, assumindo a Presidência da República.
Chegou a ser considerada a segunda mulher mais poderosa do mundo, atrás apenas da chanceler alemã, Angela Merkel, no ranking de 2013 da revista Forbes.
Em junho de 2013, o sucesso mediático e a popularidade começaram a reduzir-se. A falta de experiência e de aliados entre os partidos e os primeiros sinais de problemas na política económica afetaram a sua imagem pública.
Mas foram os protestos contra o aumento das tarifas de autocarros e os gastos públicos com o Campeonato do Mundo que sacudiram o país, prejudicando severamente sua imagem.
Uma situação agravada com o embaraço diplomático causado pela revelação de que as suas comunicações eram monitoradas pelos Estados Unidos.
Com a crise económica a bater às portas, conseguiu ser reeleita em 2014, com 52% dos votos, mas os resultados não foram suficientes para pacificar o país.
Ao contrário do que aconteceu no passado, desta vez os seus grandes adversários não foram os militares, mas a insatisfação da população que passou a mobilizar-se em protestos contra o Governo.
A chefe de Estado é acusada de ter cometido crime de responsabilidade, por ter executado manobras fiscais ilegais, ao assinar para despesas extras sem autorização do Congresso.
Em sua defesa, Dilma Rousseff alega que está a sofrer um golpe praticado por políticos que não conseguiram ser eleitos nas urnas e agora querem mudar o Governo com voto indireto.
Nos seus últimos discursos, Dilma tem afirmado que a sua saída forçada manchará a história da democracia brasileira. No entanto, ainda não se sabe quem serão os vencedores que irão escrever esta história, já que muitos dos seus opositores também estão a contas com a justiça.
Com Lusa