Jornada Mundial da Juventude

Viram Francisco lá muito ao longe, querem que a Igreja o ouça mais e saber "se há esperança"

Jovens de cinco continentes partilham o que gostariam de dizer ao Papa, num dia em que nem todos o viram de perto, mas sentiram o peso das suas palavras ao garantir que a Igreja tem espaço “para todos”.

Um grupo de jovens vindo de Manila, nas Filipinas, diz que a viagem longa "vale a pena" só por estarem na presença de Francisco
Cláudia Machado

Cláudia Machado

Milhares viram-no lá muito ao longe, outros tantos nem isso. Na lotaria do Parque Eduardo VII, na tarde desta quinta-feira, houve muitos jovens que tiraram o ‘palito curto’ na cerimónia de acolhimento ao Papa Francisco, no seu primeiro grande momento na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa (JMJ).

Ainda assim, esperaram horas ao sol - alguns desde antes do 12:00 - motivados por uma oportunidade de partilhar o mesmo espaço que o líder da Igreja Católica. Ali, percebeu-se que Francisco tinha muito para lhes dizer (e garantir) sobre uma fé que é “para todos” e para todos tem lugar.

Só que este encontro tem dois lados - o de Francisco e o dos jovens - e, feito o desafio, os segundos pensaram o que lhe diriam se, não fosse o azar, com ele se cruzassem.

São peregrinos de cinco continentes que olham para este “Papa radical” como uma “força motriz” e deixam o aviso à Igreja Católica enquanto instituição: “era bom que o ouvisse mais”.

Das Filipinas para ouvir o Papa “que fala de assuntos que a Igreja evita"

Vanya Castor tem 28 anos e assegura que as cerca de 20 horas que passou em viagem para ligar Manila, nas Filipinas, a Lisboa “valeram a pena” para viver a sua primeira JMJ.

Nesta “experiência incrível” agradece sobretudo pela família de acolhimento que recebeu o grupo em Benfica.

“São muito queridos e generosos, fazem-nos sentir o amor de Deus através deles”, conta à SIC Notícias a jovem, que teria “tantas perguntas” para Francisco que mal saberia por onde começar.

Ainda assim, encontrou o fio à meada e às questões que a afligem:

“Queria perguntar-lhe se ainda há esperança para nós, os jovens, e quanto tempos de estar envolvidos para renovar o nosso compromisso cristão”, conta Vanya, que se sente “ouvida e vista” por este Papa "tão alegre e radical.

Para a jovem, a forma como Francisco “comunica com os jovens e fala de temas como o movimento LGBTQIA+ ou o aborto, que a Igreja normalmente evita” marcam o seu pontificado.

Os “arrepios” causados pelas palavras de Francisco, uma “força motriz”

Numa das zonas em que os jovens pouco ou nada viram conseguiu-se, pelo menos, escutar a palavra de Francisco. Pérola Muzengo, de 20 anos e chegada de Luanda, Angola, emocionou-se com o recado do Papa para os jovens, e até gravou “uma parte, para ouvir mais tarde, com calma”.

“Infelizmente não conseguimos estar mais à frente, mas as palavras que ouvimos foram muito fervorosas, até ficámos arrepiados. Mesmo à distância, conseguimos sentir a energia positiva e o que importa é colocar as ideias do Papa em prática”, explica a jovem, que está acompanhada por 19 amigos, inseridos num grupo de três centenas de jovens que partiram da capital angolana.

Ao Papa, tinha também um recado para dar: “Quero que ele saiba que é a minha força motriz”.

O sol do meio-dia e um pedido à Igreja Católica

No Parque Eduardo VII desde o meio-dia, porque “vale a pena” e o calor “aguenta-se”, pois o momento “passa rápido”, estava Ana Borges, de 28 anos e vinda de Setúbal.

A viagem foi bem mais curta, mas a experiência tem também um sabor “único e inesquecível”, que se sente ao vir ao encontro de um Papa que “percebe muito bem os jovens”.

“Se falasse hoje com o Papa Francisco, agradecia-lhe imenso por ter uma mentalidade mais atual e por perceber muito bem os jovens. Era bom que a Igreja assim o fizesse, que o ouvissem mais”, destaca Ana.

“Mostra-nos que os jovens têm muita importância dentro da família Católica”

Para Nelson Cevallos, de 24 anos, não é uma estreia. Esteve no Panamá, em 2019, para ouvir Francisco. Em Portugal, encontrou “um povo muito amável e acolhedor” e o calor não é um problema, garante com um sorriso, porque no seu país, El Salvador, já estão "habituados”.

“Gostaria de agradecer ao Papa por todas as mensagens que deixa à Igreja Católica e aos jovens, em especial. Motiva-nos a ser protagonistas dentro da Igreja e mostra-nos que temos uma missão de muita importância dentro desta família que é a Igreja”, confessa à SIC Notícias.

Ainda do continente americano, mas diretamente do coração do México chegou ao Parque Eduardo VII Ximena Navas, de 19 anos, para a sua primeira JMJ.

As primeiras impressões são de que em Portugal “se vive a fé mais livremente em comparação com o México, onde esta é mais conservadora”.

A Francisco, faria apenas um pedido: “Reze pelos jovens”.

Jovens prontos para rezar pela paz à procura “de um futuro seguro”

Em poucos metros, podiam-se cruzar continentes no Parque Eduardo VII. Min Goo Kim, de 31 anos, cruzou os céus desde a Coreia do Sul para vir ao encontro de um Papa que sente “preocupada com uma possível guerra mundial e com o conflito na Ucrânia”.

“Gostaria de lhe dizer que poderíamos rezar juntos pela paz. Nós, os jovens, somos o futuro e também queremos um futuro seguro, queremos ter sonhos seguros”, desabafa.

Para Min Goo é a segunda JMJ. Esteve na Polónia, em 2016, também com Francisco. Agora, visita Portugal com um grupo de 20 peregrinos.

Agradecer e perguntar o que mais gosta de ver no prato

Diretamente de Melbourne, na Austrália, Shantel Joseph nota logo que “os portugueses são muito carinhosos” e, garante, nunca esquecerá “o momento incrível” em que viu tantas pessoas de nacionalidades diferentes a partilhar um momento “de união entre os jovens”.

Para o Papa guarda palavras de afeto e uma pergunta que lhe mataria a curiosidade.

“Quero dizer-lhe que o amo e estou muito grata por ele, por tudo o que faz por nós, mas também gostava de lhe perguntar qual é o seu prato favorito”, partilha a jovem australiana, de 20 anos, que diz que o seu, entre risos, há-de ser "uma lasanha".

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