Jornada Mundial da Juventude

"Habemus pasta": Bordalo II desenrola tapete contra "a injustiça" e explica como o fez

O artista revela as razões por detrás da passadeira com imagens de notas de 500 euros colocada no palco que vai receber o Papa. "As pessoas sentem-se muito injustiçadas", garante.

SIC Notícias

A poucos dias do início da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), as atenções viraram-se para Bordalo II, que fez uma crítica aos milhões de euros gastos na organização do evento com a sua obra “Walk of Shame”.

O artista plástico português diz que a obra “não é um ataque direto à multinacional do Vaticano”, nem à liberdade religiosa, mas sim uma crítica aos investimentos do Governo.

“Dizem que é um investimento que vai trazer retorno. Mas que retorno é esse? Acho que é algo tão pontual, que talvez esses valores deveriam ser investidos em algo que o retorno seja qualidade de vida para as pessoas a médio prazo, ou seja, na saúde, educação, habitação”.

Bordalo II garante que “as pessoas sentem-se muito injustiçadas”, e que ele, como artista, “tem a sorte de ter a visibilidade e os meios para fazer acontecer".

O artista explica que, para além do Estado português ser um “patrocinador oficial” do evento, com gastos elevados desde o início, a revolta “tem a ver com a derrapagem final” da organização.

“Foi um evento planeado com anos de antecedência. E há um mês do início lembram-se que estão a faltar coisas e que são necessários fazer ajustes diretos sem olhar aos preços. Quando o dinheiro é dos outros, é muito fácil as coisas serem feitas dessa forma, mas isto mostra uma grande irresponsabilidade".

“Tenho receio de ficar calado”

A “Walk of Shame” não é o primeiro trabalho do artista português a tocar em temas sensíveis. Segundo o próprio, a "passadeira da vergonha" faz parte de uma série de trabalhos que “têm sempre o objetivo de criticar ou tocar em pontos relevantes, como machismo, racismo e xenofobia”.

Questionado se teve medo de ter a carreira e a vida afetada após o protesto, Bordalo II afirma que são coisas que “beliscam sempre”, mas que tem “mais receio de ficar calado e não dizer o que pensa”.

“Não podemos ter medo. Temos que falar das coisas para podermos fazer parte da mudança”.

“Pensávamos que seria difícil, mas foi fácil”

Como fez o artista para subir ao altar-palco do Parque Tejo e lá estender a passadeira composta por imagens de notas de 500 euros, que tem cerca de 20 metros de cumprimento? Bordalo II explica que o processo foi, na realidade, bastante simples.

“Pensávamos que seria difícil, mas foi fácil. Metemos os coletes do carro e avançamos. Como ninguém disse nada, fomos embora”.

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