Jornada Mundial da Juventude

“Jornadas do Esbanjamento”: Governo tem culpa no cartório e quem deve pagar é a Igreja, defendem partidos

A Iniciativa Liberal refere-se às Jornadas Mundiais da Juventude como as “Jornadas do Esbanjamento” e o Bloco de Esquerda defende que o evento deveria ser pago pela Igreja. São as mais recentes reações à polémica do elevado custo do evento, pago em parte com o dinheiro dos contribuintes.

ANTÓNIO COTRIM

SIC Notícias

A Iniciativa Liberal questionou esta sexta-feira se as Jornadas Mundiais da Juventude não serão as “Jornadas do Esbanjamento”, apesar de não colocar em causa a sua realização. O Bloco de Esquerda defende que o evento deveria ser pago pela Igreja.

"As Jornadas Mundiais da Juventude ou as Jornadas Mundiais do Esbanjamento?", questiona a IL.

O partido lamenta a falta de organização e planeamento que obrigam, “à última da hora”, a sucessivos ajustes diretos no valor de vários milhões de euros.

"Além deste chorrilho de gastos, assiste-se a um passa-culpas entre os vários envolvidos no projeto", pode ler-se na nota.

A IL refere que "não põe em causa a realização do evento" e lembra que, a bem da imagem da cidade, "é necessário garantir o sucesso deste evento, mas apela a que todos os envolvidos tenham a noção de que este evento se realiza em Portugal".

"Um país na cauda da Europa especialista na arte do esbanjamento e isso magoa-nos a todos", frisa.

Também esta sexta-feira, o Bloco de Esquerda apontou o dedo ao Governo, afirmando que foi o Executivo que permitiu que se chegassem a valores tão elevados, ao aumentar o limite aos ajustes diretos.

Catarina Martins diz ainda que o evento deveria ser pago pela Igreja, como tem acontecido noutras edições noutros países.

“Há um absoluto silêncio da maioria absoluta que apoiou este tipo de investimento e até aumentou limite aos ajustes diretos. [JMJ] devem ser pagas como no resto do mundo pela própria Igreja”, afirmou.

“O ponto aqui não são os quatro, nem cinco nem seis milhões”, afirma Moedas

O presidente da Câmara de Lisboa recordou esta manhã que a autarquia vai investir até 35 milhões de euros nas Jornadas Mundiais da Juventude. Carlos Moedas garante que o investimento vai ser feito com “consciência”.

“Vamos investir até 35 milhões de euros. O ponto aqui não são os quatro, nem cinco, nem seis [milhões]. Vamos investir e vamos fazê-lo com consciência disso”.

Carlos Moedas diz que vai dar "o corpo às balas"

A afirmação surge depois de na quinta-feira ter assumido a responsabilidade do custo do altar-palco para as Jornadas Mundiais da Juventude em Lisboa. Admitiu mesmo mudar o projeto e garante que fará tudo o que o Presidente Marcelo e a Igreja quiserem.

As declarações do autarca surgiram depois da Igreja ter questionado o porquê do avultado valor. Em conferência de imprensa, o presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude, D. Américo Aguiar, revelou que não tinha sido informado da quantia.

“O Papa pede-nos uma reflexão sobre a nova economia, sobre o respeito pelos bens materiais, nós não queríamos ferir a Jornada Mundial da Juventude com este tipo de acontecimento”, reiterou.

Carlos Moedas vem assumir a responsabilidade e diz que “vai dar o corpo às balas”, estando disposto a mudar o projeto do altar-palco.

“Aquilo que for a vontade do Presidente da República e da Igreja eu farei e ajudarei. Agora, estamos a 186 dias, o que podemos fazer é melhorar, rever o projeto, mas tem de ser feito”, disse.

A Igreja assume que não acompanhou devidamente o projeto e promete seguir de perto as próximas obras e reduzir os custos no que for possível.

“O Papa pede-nos uma reflexão sobre a nova economia, sobre o respeito pelos bens materiais, nós não queríamos ferir a Jornada Mundial da Juventude com este tipo de acontecimento”, reiterou o bispo auxiliar de Lisboa, D. Américo Aguiar.

Mas a sete meses do evento, a Câmara de Lisboa diz que já não há grande margem. A autarquia tem defendido os gastos com a expectativa do enorme retorno económico para a cidade.

Depois das contradições, Igreja desmente: Marcelo não sabia do valor

Depois das explicações dadas pelo bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o Presidente da República sublinhou que "está esclarecido" que o próprio não sabia do valor do altar-palco. Marcelo Rebelo de Sousa disse ter ficado "estupefacto" com a nota deixada pelo Patriarcado.

"Portanto, a Igreja, e bem, desmentiu aquilo que tinha vindo numa nota do Patriarcado e que tinha provocado a minha estupefação", declarou o Presidente da República.

O chefe de Estado, que falou pouco depois da conferência de imprensa do bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Fundação JMJ 2023, considerou, por outro lado, que Américo Aguiar, "e muito bem", se mostrou "sensível à compatibilização de dois objetivos: um, que a jornada seja uma projeção de Portugal no mundo; segundo, que tenha em linha de conta as circunstancias económicas e sociais vividas neste momento".

As Jornadas Mundiais da Juventude vão realizar-se este ano em Lisboa, na zona do Parque Tejo, entre os dias 1 e 6 de agosto. Lisboa soube em 2019 que iria receber o evento, mas só adjudicou as obras do altar-palco entre dezembro de 2022 e o início de janeiro.

De acordo com um documento a que a SIC teve acesso, em junho do ano passado, a autarquia de Carlos Moedas previa gastar 3.250.000 euros no altar e zona VIP, 1.750.000 euros abaixo do valor agora adjudicado às construtoras Mota-Engil e Oliveiras. E, apesar de o palco que servirá de altar ao Papa Francisco, cuja obra custará cerca de 5 milhões de euros, estar no centro das atenções, há uma lista de despesas previstas pela Câmara com outros valores que saltam à vista.

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