O ex-Presidente brasileiro Jair Bolsonaro alegou esta quarta-feira que estava medicado e publicou por engano numa rede social um vídeo a questionar a eleição presidencial, no depoimento à Polícia Federal sobre os ataques dos seus apoiantes em 8 de janeiro.
O advogado Paulo Cunha Bueno, que faz parte da defesa do ex-Presidente, disse, após o depoimento, que a mensagem publicada por Bolsonaro nas redes sociais em 10 de janeiro, dois dias depois dos ataques às sedes dos três poderes, contestando o resultado eleitoral, foi acidental.
"Sobre este post [mensagem nas redes sociais] tanto a publicação foi acidental que ele [Bolsonaro] não fez nenhum comentário em cima deste post e apagou logo na sequência. O [ex-] Presidente quando saiu de férias tratou a eleição como página virada. Em momento algum vai encontrar alguma declaração dele a declinar [afirmando] que eleição tenha sido fraudada", disse o advogado.
O ex-secretário especial de Comunicação do Brasil, assessor e advogado de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, também presente no depoimento, acrescentou em conversa com os media locais que Bolsonaro alegou à Polícia Federal que estava sobre o efeito de remédios e, por isto, fez a publicação sem querer.
"Exatamente isso", respondeu Wajngarten ao ser questionado sobre o suposto uso de remédios informado por Bolsonaro.
"Quando alertado, tomou conhecimento da publicação, respondendo a um outro colega [jornalista] sequer o [ex] -Presidente sabia ou tinha percebido que havia sido postado o referido conteúdo. Assim que alertado, apagou o vídeo", acrescentou Wajngarten.
O vídeo em questão apresenta uma declaração de um procurador do estado de Mato Grosso do Sul que sustenta teses sobre fraudes nas urnas eletrónicas já desmentidas pelas autoridades.
Os media locais informaram que Jair Bolsonaro só respondeu a perguntas sobre o vídeo que foi elemento citado pelos investigadores como um sinal de que pode ter estimulado os atos de vandalismo em Brasília.
Apoiantes do ex-Presidente invadiram e vandalizaram em 8 de janeiro as sedes do Supremo Tribunal Federal (STF), do Congresso e do Palácio do Planalto, em Brasília, obrigando à intervenção policial para repor a ordem e suscitando a condenação da comunidade internacional.
A invasão começou após militantes da extrema-direita brasileira apoiantes de Bolsonaro, derrotado por Lula da Silva nas eleições de outubro passado, terem convocado um protesto para a Esplanada dos Ministérios para tentar derrubar o novo Governo.
Após os atos de vandalismo, o STF afastou o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, que já retornou ao cargo, considerando que tanto o governador como o ex-secretário de Segurança e antigo ministro da Justiça de Bolsonaro Anderson Torres, que está preso, terão atuado com negligência e omissão.
A justiça brasileira investiga Jair Bolsonaro para esclarecer se teve participação na instigação dos atos golpistas, e também estão a ser investigados funcionários públicos e outras autoridades suspeitas de omissão ou de facilitação dos ataques.