Incêndios em Portugal

Governo deixa aviões Canadair de fora do combate a incêndios

Do dispositivo de combate aos incêndios deste ano destaca-se a não contratualização dos dois habituais Canadair. O que causou estranheza às tripulações que fazem esse serviço há mais de 20 anos, até porque já há outros países interessados nestas aeronaves nacionais.

Ana Paula Almeida

João Venda

Fazem razias a baixas altitudes, levam este trabalho como uma missão de forma quase militar, na luta contra os incêndios. Estas equipas voam três semanas, sem parar, depois descansam uma e assim vão rodando, pilotos e tripulações dos Canadair, que já nos habituámos a ver sobrevoar Portugal há mais de 20 anos, sobretudo na época dos fogos.

Por estes dias, em Ourém, foi apresentado o Dispositivo Especial de Combate a Fogos Rurais, conhecido por DECIR, para 2024, e foi com alguma surpresa que os responsáveis pelos Canadair reagiram ao que sentem como “uma exclusão”.

"(...) Já há uma série de anos a trabalhar nesta área do fogo e a julgar por tudo o que nos dizem, que somos dois equipamentos, e que é um tipo de equipamento útil principalmente nos fogos de grande amplitude, não há dúvida nenhuma de que nos sentimos tristes", partilha Luís Santos, piloto de Canadairs e presidente do aeroclube de Portugal.

Na chamada Fase Delta, a tutela passou de 72 para 70 os meios aéreos. Tem sido dito que os Canadair, de 1974, já estarão a ficar velhos e que não estão disponíveis no mercado.

"(...) Aquilo que nós queremos reafirmar é que, para além de estarem disponíveis desde o primeiro dia de maio, esta é a verdade (...) os tripulantes também estão completamente disponibilizados em termos de licenciamento. As noticias que têm sido veiculadas não correspondem à verdade porque se afirma que efetivamente havia dificuldade de encontrar os equipamentos no mercado, ora a empresa onde estou tem esses equipamentos perfeitamente mantidos e preparados", diz Luís Santos

É um tipo de avião com especificidades que outros não têm. Os dois que existem, além das inspeções e revisões feitas sempre após cada missão, já terão substituído motores, trens e componentes elétricos várias vezes, como prova a documentação referente às vidas de cada avião.

"É um tipo de equipamento que dá sempre muito jeito num dispositivo nacional. É um equipamento, cada um deles, que pode transportar e dar a cada passagem num fogo 6 mil litros de água cada um. Como trabalhamos em parelha serão 12 mil litros. E depois é um avião que é de âmbito nacional", explica o piloto de Canadairs.

Graças à sua mobilidade, enquanto estão em Castelo Branco, por exemplo, podem rapidamente ser acionados tanto para o Gerês como para Monchique, no sul, coisa que outros meios não podem fazer.

"O fireboss tem a sua capacidade de estar num determinado incêndio, num determinado tempo, mas eles estão separados, vários deles, pelo espaço nacional. Os helicópteros pesados, médios e ligeiros também têm a sua limitação geográfica de poderem atuar. Nós estamos em Castelo Branco e podemos fazer todo o espaço nacional com uma capacidade de 12 mil litros", acrescenta

A SIC sabe que as aeronaves que a tutela deseja e, essas sim, não estão disponíveis no mercado, são aviões mais recentes, com motores turbina, mais modernos mas também mais caros e que consomem mais combustível.

Contactada pela SIC, a Proteção Civil remeteu para a Força Aérea que, após ter dito que "foram contratados os 70 meios meios que a tutela achou serem necessários", sugeriu falar com os Ministérios da Administração Interna e Defesa Nacional.

Assim sendo, ainda não se sabe se virão ou não ser alugados estes equipamentos, antes do próximo Verão. Dois Canadairs portugueses, funcionais, ainda em terra, nos quais Espanha e Grécia já demonstraram interesse.

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