Guerra Rússia-Ucrânia

"Tenho saudades do meu filho": soldados ucranianos na Rússia só querem ouvir "acabou"

As tropas ucranianas continuam a avançar em território russo. Após uma ofensiva que começou no verão passado, o exército começou este mês um novo ataque. Zelensky admite que a zona ocupada poderá servir como moeda de troca. A correspondente da SIC na Ucrânia entrevistou soldados que participam nesta missão.

Iryna Shev

Depois de receberem a ordem, as tropas ucranianas de assalto embarcam no veículo blindado. Estão em treinos, na região de Sumy. É daqui que partem em missões para território russo.

"Quando eu descobri que íamos entrar na região de Kursk, fiquei assustado, mas ao mesmo tempo é interessante, porque eles trouxeram-nos tanto infortúnio. Tínhamos de entrar e mostrar que não estamos aqui nas fileiras só porque sim", diz Bond, um dos primeiros soldados ucranianos a entrar na região de Kursk.

A entrada foi a 6 de agosto de 2024 e a missão era “tomar a povoação de Sverdlekove”.

"Implantámo-nos, conforme coordenado com o comando superior, e começamos a trabalhar dentro da própria povoação. Conseguimos "limpar" a povoação em cerca de três horas. A infantaria estava a trabalhar, os blindados estavam a trabalhar, havia uma boa coordenação. E, claro, o inimigo não nos esperava lá", conta Bond.

11 mil soldados participaram na primeira incursão

É em veículos blindados que os soldados ucranianos atravessam a fronteira e entram em território russo, na região de Kursk, onde decorre uma das operações que surpreendeu não só os ucranianos, mas também o Ocidente.

Cerca de 11 mil soldados ucranianos terão participado na primeira fase da incursão.

"É uma operação de sucesso e era preciso leva-la a cabo para evitar uma ofensiva contra a região de Sumy. Do meu ponto de vista foi uma decisão correta", afirma Veles, comandante ucraniano de uma peça de artilharia.

“Não era assim que sonhava ir para o estrangeiro”

Em três anos de guerra, Veles combateu em praticamente toda a linha da frente. Diz que “nunca tinha estado no estrangeiro” antes da missão em solo russo.

"Estava sempre a trabalhar, para juntar algum dinheiro. E de repente estou a atravessar a fronteira, sem um passaporte, e ainda por cima para a Rússia. Tem graça. Não era assim que eu tinha sonhado ir pela primeira vez ao estrangeiro".

Norte-coreanos “parecem zombies”

Como resposta à incursão, o comando militar russo reuniu cerca de 78 mil soldados, incluindo 11 mil norte-coreanos. “Eles não se rendem. Eles vão até ao fim, parecem simplesmente zombies”, conta Veles.

Combater em território desconhecido traz mais riscos no campo de batalha.

“Houve uma situação pouco simpática. Ficámos cercados durante uma semana. O que é que isso significa? Que não nos chegava nem comida nem água. Sobrevivíamos como podíamos”, lembra Bond.

“Estamos todos à espera que digam que acabou”

Volodymyr Zelensky diz que poderá trocar território de Kursk ocupado pelas tropas ucranianas por território ucraniano.

"Não é segredo para ninguém que estamos todos à espera da hora H, quando nos disserem "acabou," vamos, pelo menos, parar o fogo. Estamos todos à espera disso. E as nossas famílias estão à nossa espera", frisa Bond.

Os ucranianos esperam que os 450 km quadrados de território que controlam na Rússia possam reforçar a posição em possíveis negociações.

"Tenho saudades do meu filho. Não assisti ao crescimento dele nos últimos três anos. Diz-me que quer acabar a escola e ir combater. E eu disse-lhe: "filho, vou fazer de tudo para que nunca tenhas que combater", relata Veles.

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