O rublo russo desvalorizou-se mais de um quinto do seu valor desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022, tendo ultrapassado o limite simbólico de 100 rublos por dólar na segunda-feira, 14 de agosto.
A moeda russa recebeu ajuda de emergência do Banco Central da Rússia, que aumentou as taxas de juro em 350,0 pontos base na terça-feira, elevando-as para 12%. Essa medida fortaleceu o rublo em relação ao dólar, atingindo 96,70 unidades no preço oficial na quarta-feira. No entanto, é provável que sejam necessárias outras ações para garantir um impacto positivo mais duradouro.
O jornal britânico Financial Times divulgou na quarta-feira que o Presidente russo Vladimir Putin decidiu aumentar o controlo sobre o rublo. Putin exigirá que os exportadores vendam até 80% dos seus lucros em moeda estrangeira dentro de 90 dias, caso contrário, deixarão de receber ajuda estatal.
O Ministério das Finanças propõe outras medidas, como proibir a distribuição de dividendos, a emissão de créditos ao exterior e a concessão de subsídios à importação, além de limitar o volume de divisas que os exportadores transferem para bancos estrangeiros.
Uma eleição presidencial está iminente, marcada para março de 2024, o que torna o destino do rublo um assunto delicado para as autoridades russas.
O que causou a desvalorização do rublo?
- As sanções ocidentais contra a Rússia pela invasão da Ucrânia levaram a uma redução nas receitas de exportação e ao aumento dos custos de importação, contribuindo para o enfraquecimento do rublo.
- O aumento acentuado dos gastos de Moscovo com as forças armadas para prosseguir a guerra na Ucrânia.
- Desde que Yevgueni Prigozhin, líder do Grupo Wagner, liderou uma rebelião armada fracassada em junho de 2022, o rublo não parou de desvalorizar.
- Com a aceleração da inflação, os preços dos produtos básicos estão em alta. Os russos veem-se obrigados a retrair o consumo. A agência nacional de estatísticas russa Rosstat divulgou na quarta-feira que os preços na Rússia aumentaram 3,52% desde o início do ano.
O que poderá Moscovo fazer?
A maneira mais segura de estabilizar o rublo seria a Rússia retirar as suas tropas da Ucrânia e reduzir os crescentes gastos militares. No entanto, supondo que Moscovo não tome essa medida, poderá tentar as seguintes ações:
1. Aumentar novamente as taxas de juro
No ano passado, o aumento da taxa diretora para 20% acalmou os mercados e apoiou o rublo antes dos controlos de capital serem implementados.
No entanto, os custos de empréstimos mais elevados limitam as perspetivas de crescimento económico e tornam a vida mais difícil para as empresas, especialmente para o Governo, que financia as operações militares na Ucrânia.
O Ministério das Finanças afirmou que taxas mais baixas aliviariam a pressão sobre o défice orçamental e as suas necessidades de financiamento.
2. Controlos de capital
As autoridades russas ponderam obrigar os exportadores a vender as receitas em moeda estrangeira, de acordo com cinco fontes familiarizadas com o assunto citadas pela agência Reuters, entre outras medidas de controlo de capital que visam fortalecer o rublo.
- devolução de até 90% das receitas de exportação para a Rússia por parte dos exportadores, caso contrário, perderão o acesso ao apoio do governo;
- proibição de pagamentos de dividendos e empréstimos no estrangeiro, incluindo jurisdições consideradas "amigáveis" pela Rússia;
- proibição de subsídios à importação.
No passado, a Rússia deu ordem que os exportadores convertessem 80% das receitas cambiais para apoiar a estabilidade financeira, o que levou o rublo a atingir o seu valor mais alto em sete anos em junho de 2022.
3. Reduzir o excesso de liquidez
O banco central russo tem outras ferramentas à sua disposição.
Poderá tentar reduzir o excesso de liquidez do rublo aumentando os requisitos de reserva dos bancos, reduzindo assim a oferta de moeda que poderia ser trocada por moeda estrangeira.
O Banco da Rússia demonstrou preocupação com a volatilidade do rublo e a perspetiva de novas medidas para conter a desvalorização poderá enfraquecer, pelo menos temporariamente, a procura por moeda estrangeira, segundo analistas do Promsvyazbank citados pela Reuters.
O banco central já anunciou que deixará de realizar leilões de recompra, que têm ajudado os bancos a gerir a sua liquidez. Atualmente, os bancos devem ao banco central 1,28 biliões de rublos (13,46 mil milhões de dólares) como resultado desses leilões.
O vice-governador do Banco da Rússia Alexei Zabotkin declarou que a decisão de interromper os leilões de recompra não está relacionada com o enfraquecimento do rublo, sendo apenas uma coincidência.
4. Intervenções cambiais
Uma forma de defender o rublo é a Rússia vender moeda estrangeira do seu Fundo Nacional de Riqueza (NWF). Após um hiato de meses, a Rússia retomou as intervenções cambiais em janeiro, vendendo o yuan da China.
A Rússia tentou mudar para compras de câmbio em agosto, mas essa tentativa foi rapidamente interrompida quando o rublo caiu.
No entanto, a venda em grande quantidade de moeda estrangeira esgotaria as reservas cambiais de Moscovo. As sanções congelaram cerca de metade dos mais de 600 mil milhões de dólares em câmbio que Moscovo tinha antes da guerra.
O vice-governador Zabotkin afirmou na semana passada que o banco tomaria essas medidas quando necessário.
5. Aumentar as exportações de petróleo
Analistas do Alfa Bank disseram à Reuters que a decisão da Rússia de limitar as exportações de petróleo para apoiar os preços globais é a razão estrutural por trás do enfraquecimento do rublo.
Moscovo alargou o corte nas exportações de petróleo até setembro, e no mês seguinte, as exportações de petróleo serão reduzidas em 300.000 barris por dia.
As exportações de petróleo e gás da Rússia caíram acentuadamente este ano, principalmente devido ao embargo ocidental e ao limite de preço do petróleo. Apesar de outros mercados se terem aberto ao petróleo russo, Moscovo é obrigada a vendê-lo com desconto. Qualquer aumento na oferta levaria a uma queda nos preços globais.
6. Impostos criativos
Uma opção mais “extravagante" poderia ser a imposição de novos impostos sobre as transações em moeda estrangeira, conforme proposto na terça-feira por um deputado da Duma, a Câmara baixa do Parlamento russo.
O deputado Vladimir Koshelev propôs taxar as transações cambiais no mercado de ações e apertar a regulamentação dos lucros em moeda estrangeira.
A agência de notícias Interfax citou uma fonte dizendo que as autoridades discutiram um novo imposto sobre lucros excessivos para os exportadores que se recusam a cooperar.