Guerra Rússia-Ucrânia

"Putin pôs toda uma sociedade num destino da guerra"

A reunião do Conselho NATO-Ucrânia, que decorre esta quarta-feira, é, para Germano Almeida, "uma prova de força por parte de Kiev". O comentador da SIC analisa os sinais dados por Moscovo para uma potencial escalada do conflito.

Germano Almeida

SIC Notícias

No dia em que se realiza a primeira reunião do Conselho NATO-Ucrânia, Germano Almeida destaca que o encontro é “uma prova de força” e uma prova que este mecanismo para ajudar Kiev terá impacto. Além disso, este encontro terá também como objetivo abordar opções para “salvar o possível do acordo dos cereais”.

“Na cimeira de Vílnius, tinha ficado a ideia de um certo sabor a pouco, que devia ter havido um avanço maior na integração da Ucrânia na NATO e que o Conselho NATO-Ucrânia seria relativamente inócuo. Não vai ser. Tão poucos dias depois da sua criação, já vai reunir. É uma prova de força por parte de Kiev e de que a NATO percebe que é o tema mais importante para o seu futuro imediato é a resolverá a questão da Ucrânia, pelo menos ajudá-la.”

Sobre a exportação de cereais ucranianos, Germano Almeida destaca os esforços da Rússia para impedir uma alternativas ao acordo, após ter suspendido o tratado acordado com a Turquia e a ONU. Os bombardeamentos ao sul da Ucrânia têm marcado a estratégia de Moscovo.

O comentador SIC lembra que há uma “divergência no flanco leste da NATO sobre a possibilidade dos grãos ucranianos poderem escoar por via terrestre”, uma vez que se tornariam concorrentes aos produtos de vários países – tais como Polónia, Roménia, Bulgária, Hungria e Eslováquia.

“A chave para esta reunião terá a ver com a proposta da Lituânia, de disponibilizar os portos dos países bálticos para esse escoamento, se isso vai ser um ponto importante ou não e também a possibilidade, pelo menos imediata, de a União Europeia ajudar, por exemplo, na questão na questão do transporte, na capacidade ferroviária de o fazer.”

Um ataque à poucos quilómetros da NATO

Germano Almeida destaca o ataque russo ao porto de Reni, no rio Danúbio, sublinhando que os países vizinhos da Ucrânia estão “assustados”. Em particular a Moldávia e a Geórgia, países da antiga União Soviética que não fazem parte da NATO.

“Desde o início que há dois países com especial vulnerabilidade no flanco leste: a Geórgia e a Moldávia, antigo espaço soviético e não espaço NATO. Essa vulnerabilidade tem sido muito evidente. No caso da Moldávia, também pela questão da Transnístria, onde há uma presença russa militar numa parte do seu território.”

Além dos ataques próximos das fronteiras, Moscovo tem dado outros sinais de escalada do conflito, nomeadamente o investimento de 40% do PIB em despesas militares, o alargamento da idade para a recruta militar e a possibilidade de criar uma fábrica de drones iranianos no território russo.

“Como sabemos, quase todos os dias são utilizados drones iranianos pela Rússia para bombardear a Ucrânia. Se a Rússia conseguir ela própria criar esses drones iranianos dentro de território russo, isso pode significar um aumento muito significativo do seu stock de drone, o que nos mostra duas coisas: uma que a guerra está por continuar, outra que a Rússia pode aumentar essa capacidade. Isso é preocupante.”

Em relação à alteração da lei que determina a idade de recruta militar significa, segundo Germano Almeida, que há um “espetro muito mais largo de homens russos que podem ser mobilizados para a guerra na Ucrânia”, o que surge como resposta perante “dificuldades de mobilização”. As alterações antecipam a idade mínima de recruta dos 21 para os 18 e aumenta a máxima dos 27 para os 30.

“Putin pôs, a 24 de fevereiro de 2022, toda uma sociedade num destino que é o destino da guerra.”

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