O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse acreditar que o Presidente russo, Vladimir Putin, deseja a continuação do acordo que permite a exportação de cereais ucranianos pelo Mar Negro, apesar de Moscovo ter anunciado hoje que suspende a sua participação.
"Acho que, apesar da declaração de hoje, o meu amigo Putin quer continuar o acordo humanitário" que permite a exportação de cereais ucranianos pelo Mar Negro", afirmou Erdogan.
"O meu ministro dos Negócios Estrangeiros deve falar por telefone [com o homólogo russo] e eu falarei com Putin assim que voltar", continuou Erdogan, que falava aos jornalistas antes partir para uma viagem à Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Catar.
O acordo de exportação de cereais expira hoje à meia-noite, 21h00 GMT, 22h00 de Lisboa.
Erdogan disse que vai falar sobre o assunto com Putin quando se encontrarem pessoalmente durante uma reunião prevista para agosto, mas fez ainda outra promessa:
"Pode ser que, para avançarmos, possamos tomar medidas por telefone com o Sr. Putin sem esperar por agosto", disse o chefe de Estado turco.
A Rússia suspendeu a participação no acordo de exportação de cereais da Ucrânia, celebrado em julho de 2022 com a mediação da Turquia, sob égide da ONU.
"O acordo do Mar Negro termina de facto hoje", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, aos jornalistas acrescentando que "assim que a parte relativa à Rússia for satisfeita, a Rússia regressará imediatamente ao acordo".
Peskov disse que não há ligação entre a decisão da Rússia de suspender a sua participação no acordo com o ataque à ponte da Crimeia, que esta segunda-feira fez dois mortos e um ferido. e que a posição do Presidente Vladimir Putin sobre o acordo já era conhecida antes do ataque.
Sucessivas renovações do acordo
O acordo, mediado pelas Nações Unidas e pela Turquia em julho passado, permitia que os cereais ucranianos bloqueados pelo conflito Rússia-Ucrânia fossem exportados em segurança através do Mar Negro.
Um acordo separado facilitou a movimentação de alimentos e fertilizantes russos, após as sanções dos países ocidentais. A Rússia e a Ucrânia são grandes fornecedores globais de trigo, cevada, óleo de girassol e outros produtos alimentares.
Há meses que a Rússia dizia que as condições para a sua prorrogação não estavam a ser cumpridas e o chefe da diplomacia, Sergei Lavrov, tinha afirmado que o acordo "está morto".
Analistas e dados de exportação mostram que a Rússia tem exportado quantidades recordes de trigo e que os seus fertilizantes também estão a ser exportados.
O acordo de exportação de cereais pelo Mar Negro foi renovado por 60 dias em maio, apesar da resistência de Moscovo. A quantidade de alimentos embarcados e o número de navios que partiam da Ucrânia tem caído nos últimos meses. A Rússia está a ser acusada de limitar a utilização de navios adicionais para a exportação de cereais.