Guerra Rússia-Ucrânia

Ministro russo compara guerra na Ucrânia com luta anticolonial em Angola

Serguei Lavrov encontrou-se com o ministro angolano Téte António e lembrou a solidariedade de Moscovo a Angola, culpando ainda a Ucrânia pelo conflito.

O ministro das Relações Exteriores angolano pediu ao seu homólogo russo um cessar-fogo com a Ucrânia.
AMPE ROGERIO/Lusa

Lusa

SIC Notícias

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov fez esta quarta-feira em Luanda uma comparação entre o conflito na Ucrânia e a guerra em Angola, numa viagem onde procurou apoio às posições de Moscovo em relação a Kiev.

Em causa, explicou o ministro russo num encontro com o seu homólogo angolano, Téte António, está o facto de Kiev estar a prejudicar os russófonos do país, levando Moscovo a ter de intervir para proteger essa parte da população.

"O mesmo conflito baseado na vontade da população de defender os seus direitos deflagrou na Ucrânia depois do golpe inconstitucional, depois do golpe de Estado militar e sangrento chegaram ao poder os nazis, neonazis declarados inclusive que apelavam a matar os russos, os judeus, os polacos", disse Lavrov, numa referência à deposição, em 2014, do Presidente eleito, Viktor Yanukovytch.

Na ocasião, a Rússia ocupou a península da Crimeia e o leste da Ucrânia, um conflito que continuou em fevereiro 2022 com uma invasão russa do resto do país, classificada por Moscovo como uma operação especial.

Lavrov disse que Rússia tentou por vários meios acabar com esse conflito, mas apesar disso o regime de Kiev optou pela deflagração deste conflito, proibindo a língua e cultura russas e convidando os que associam a ela a abandonar o país.

o Sul, Essuatini, Botsuana e Angola.

Ocidente “transformou a Ucrânia numa praça de armas”

"O Ocidente não reagiu as essas declarações racistas e colonialistas. Mais ainda, os EUA e seus aliados fizeram tudo para cultivar esse ódio e transformar a Ucrânia numa praça de armas tendo objetivo de colocar lá bases militares e criar ameaça a toda a região", disse Lavrov.

O "objetivo declarado" dessa estratégia era "envolver e atrair a Ucrânia para a Nato", afirmou, recordando o apoio da então União Soviética ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder) na sua guerra contra Portugal e depois na guerra civil, contra a União para a Independência Total de Angola (UNITA), apoiada pelos Estados Unidos e pelo regime do 'apartheid' da África do Sul.

Guerra em Angola e guerra na Ucrânia são comparáveis?

"O povo angolano sabe bem qual é o preço da independência, qual o preço do livre exercício dos direitos tradicionais dos direitos de cada angolano e, da mesma maneira, Angola participa (agora) ativamente no esforço do estabelecimento da paz noutros países para segurança, paz e prosperidade nesses países", vincou, fazendo uma comparação entre os dois conflitos.

As relações entre Moscovo e o partido no poder em Angola têm as relações que "remontam a longos anos atrás, ao período da guerra da libertação", realçando o objetivo de chegar a uma parceria estratégica entre os dois países.

Lavrov elogiou também a posição "equilibrada" de Angola nas Nações Unidas sobre decisões, "que dividem a comunidade internacional, nomeadamente as resoluções relativas ao conflito na Ucrânia".

Angola defende o diálogo inclusivo e a via negocial

Já Téte Antonio salientou que, no âmbito regional Angola privilegia o diálogo inclusivo, os compromissos políticos assentes no interesse nacional para o restabelecimento da ordem constitucional e para garantir a estabilidade dos países em conflito, respeitando sempre o princípio da não-ingerência nos assuntos internos de cada estado.

Angola defende também a via negocial e a procura de uma solução mutuamente aceite, prosseguiu, realçando a luta contra todos os flagelos que afetam a estabilidade e o desenvolvimento e primando pelo respeito do direito internacional.

Guerra na Ucrânia “afeta o mundo”

O encontro é também "oportunidade de ouro de ter o privilégio de escutar a vossa análise, opinião, sobre o conflito que hoje afeta o mundo", afirmou Téte Antonio, referindo-se à guerra entre a Rússia e Ucrânia e sublinhando a preocupação com inúmeras baixas humanas e destruição de infraestruturas.

O governante angolano frisou que a guerra constitui uma séria ameaça à paz e segurança internacionais e que " todas as nações do mundo são vítimas de maneira variável deste conflito", mostrando-se preocupado com a degradação exponencial da situação no térreo.

Perante esta situação que afeta dois países aos quais Angola está ligado na história, o chefe da diplomacia angolana defendeu o princípio da procura da solução através do diálogo, incluindo uma cessação das hostilidades.

Lavrov, por seu turno, assinalou que "as boas relações entre Rússia e Angola não estão sujeitas a peripécias geopolíticas e baseiam-se no espírito de solidariedade e apoio mútuo".

Jornalistas foram informados que teriam de abandonar a sala

Enquanto discursava o ministro russo, os jornalistas que acompanhavam o encontro foram informados que teriam de abandonar a sala, uma situação que fez com que Lavrov questionasse a retirada da imprensa.

Segundo funcionários do Mirex [Ministério das Relações Exteriores de Angola], Téte Antonio terá indicado que os jornalistas se poderiam manter na sala, mas o 'staff' da embaixada russa contrariou a orientação, pelo que todos os profissionais de comunicação acabaram mesmo por abandonar a sala onde decorre ainda o encontro bilateral, que deverá ser seguido por uma conferência de imprensa.

União Soviética apoiou movimentos de independência anticoloniais

Após a II Guerra Mundial, a União Soviética apoiou em África vários movimentos de independência anticoloniais e, hoje em dia, muitos países africanos têm-se mostrado equidistantes em relação à guerra na Ucrânia, devido aos laços históricos existentes no passado com Moscovo.

Num esforço diplomático de manter esses apoios, Lavrov está, esta semana, de visita à África d

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