Guerra Rússia-Ucrânia

"O que se decidir hoje vai ser decisivo para a guerra"

Germano Almeida, comentador da SIC, analisa a reunião dos governantes de 50 países que concerne o envio de mais tanques e armamento para a Ucrânia.

Germano Almeida

SIC Notícias

Reuniram-se esta quinta-feira governantes de cerca de 50 países em Ramstein, na Alemanha, para discutir os apoios militares concedidos à Ucrânia.

Os Estados Unidos da América já anunciaram uma ajuda superior a 2.000 milhões de euros, enquanto Volodymyr Zelensky pressiona ainda mais o Ocidente para enviar ajuda.

Um dos países disponíveis para enviar tanques é Portugal, mas, apesar da vontade, existe um impasse, devido à hesitação da Alemanha em aprovar esse envio.

O comentador da SIC, Germano Almeida, dá razão a Zelensky quando este diz que não há tempo a perder.

“Zelensky tem razão quando diz que não há tempo, pois o que for decidido hoje, não será para hoje, mas para definir o que a Ucrânia terá capacidade para fazer nos próximos 24 meses. Sabemos que a Rússia está a preparar uma grande ofensiva para a primavera e tentará antecipar para março para surpreender", avisa o comentador.

Segundo Germano Almeida, Putin já informou os seus chefes militares que quer resultados em Donbass até março. No entanto, para travar este avanço russo, é preciso fornecer material de ataque às forças ucranianas e não apenas de defesa.

"Que material é que a Ucrânia precisa para travar esse avanço? Ao longo de toda a semana o tema foram os Leopard-2 e a Alemanha é a principal fabricante, mas muitos países os têm. Precisam de luz verde da Alemanha para os enviar", relata Germano.

Apesar deste impasse, o comentador da SIC informa que o primeiro-ministro polaco disse que não esperaria pela autorização da Alemanha, tendo em conta que a defesa da Alemanha é mais importante.

Mas porquê esta hesitação por parte da Alemanha? Germano Almeida esclarece:

“A situação mostra-nos que a Alemanha tem algumas resistências que têm a ver com a sua própria história pós Segunda Guerra Mundial de hesitar em estar na linha da frente de um conflito. Mas este conflito é diferente, porque é a primeira guerra que nos afeta diretamente e a Alemanha também sabe disso".

Também os EUA têm essa posição e “não dão exatamente o que Zelensky pede”, segundo o comentador da SIC.

"O pacote hoje anunciado não tem os blindados Abrams e não tem os mísseis de longo alcance - 300km - que poderiam dar a hipótese de reconquistar a Crimeia", esclarece Germano Almeida

Os resultados desta reunião pode ser decisivos para “o que resta da década”, sendo que o que está em causa é o “impedimento da vitória da Rússia”.

Segundo Germano Almeida, a reunião pode ser “decisiva mas não conclusiva, a Alemanha pode não decidir mandar, mas pode não impedir” que os outros países enviem os Leopard-2.

“A chave é percebermos que o que se decidir hoje vai ser decisivo para a guerra - a primavera”, avisa o comentador da SIC.

Da mesma forma, Germano Almeida alerta para a reação russa, realçando que não se pode desvalorizar “as ameaças apocalípticas”.

A Alemanha tem estado sob forte pressão de vários dos seus aliados para fornecer a Kiev tanques Leopard-2, depois de já ter fornecido blindados do tipo Gepard (viatura alemãs de combate antiaéreo de alta tecnologia) e de se ter comprometido a enviar Marder (veículos de combate de infantaria da Alemanha, usados na Guerra Fria), enquanto na segunda-feira começou a levar baterias do sistema Patriot para a Polónia.

O Reino Unido já prometeu 14 tanques pesados Challenger 2 e 600 mísseis Brimstone e a Polónia diz estar pronta a enviar 14 tanques Leopard-2 de fabrico alemão, se Berlim permitir o seu envio para a Ucrânia.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e quase oito milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

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