Guerra no Médio Oriente

"O Hamas está a tentar mostrar boa vontade para ver se acalma Trump"

A comentadora da SIC Maria João Tomás analisou o atual impasse no conflito israelo-palestiniano, num momento em que a tomada de posse de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos, marcada para 20 de janeiro, promete alterar o equilíbrio político e militar na região.

Maria João Tomás

As negociações indiretas entre o Hamas e Israel foram retomadas este fim de semana, no Qatar, com o objetivo de se alcançar um acordo de cessar-fogo e a libertação dos reféns mantidos cativos em Gaza desde o ataque do movimento palestiniano em solo israelita a 7 de outubro de 2023. Maria João Tomás considera que Netanyahu vai ter em Trump "um grande aliado e isso vai dar margem para que realmente consiga recuperar os reféns sem ter que ceder".

Para Maria João Tomás, "o Hamas está a mostrar boa vontade, mas também está a jogar noutra retaguarda", ao tentar manipular os acontecimentos para atingir os seus objetivos.

“Por um lado, o Hamas está a tentar mostrar boa vontade para ver se acalma Trump. Por outro, quer que haja eleições em Israel, porque a revolta das pessoas está a crescer”.

O Hamas publicou recentemente um vídeo de uma refém de 19 anos, comprovando que ainda está viva, e forneceu uma lista de 34 reféns que estaria disposto a libertar, jovens, mulheres e pessoas mais velhas, e fala-se em duas crianças. O Hamas diz que estão todos vivos.

"Isso leva os israelitas às ruas a pedir um cessar-fogo, algo que não interessa a Netanyahu de maneira nenhuma, porque ele sabe que tem em Trump um grande aliado”.

Netanyahu luta pela sobrevivência política

Para Benjamin Netanyahu, o cessar-fogo seria um risco político e estratégico. Maria João Tomás destacou que o primeiro-ministro israelita “está a empurrar com a barriga, como sempre fez”, enquanto aguarda pela chegada de Trump ao poder.

“Netanyahu sabe que contará com um grande aliado que lhe dará margem para recuperar os reféns sem ter de ceder. Não nos podemos esquecer que ele está a meio de um julgamento, mas que agora fica suspenso por 15 dias, coincidindo com a tomada de posse de Trump. Há aqui um jogo político em que os reféns e as suas famílias acabam por ser os maiores prejudicados.”

Trump e a ameaça de redefinição geopolítica

Maria João Tomás vê em Trump uma figura decisiva para o desenrolar deste conflito: "Trump, que já está a começar a mostrar que é o Dono do Mundo vai realmente ser das pessoas mais poderosas que já tivemos. E que, de certa forma vai fazer pressão para que as coisas aconteçam como ele quer, sob pena de haver retaliação e a retaliação seria fazer ainda pior do aquilo que está na Faixa de Gaza".

A comentadora relembrou um plano para Gaza e para a Cisjordânia elaborado pelo genro de Trump em 2019 que previa uma “relocalização dos palestinianos para uma nova zona, junto ao Sinai, uma zona de deserto, onde seria criada a ‘nova Palestina’. Portanto, havia a libertação de toda a Cisjordânia para se cumprir aquela promessa bíblica do Rio Jordão até ao Mediterrâneo".

“É redesenhar o mapa de Israel e da Palestina que satisfaz os desejos de Israel enquanto entrega uma pátria à Palestina, mas numa zona de deserto que ninguém quer. Isso favorece nitidamente Israel e põe em causa o que é Palestina".

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