Guerra no Médio Oriente

"Explicamos às crianças que não é culpa delas, nem é Deus chateado": diz psicólogo português em Gaza

Um psicólogo português dos Médicos sem Fronteiras em Gaza disse, à SIC Notícias, que as pessoas não conseguem fugir dos ataques israelitas e que nem a zona humanitária está segura. "Estas pessoas estão presas num pedaço de terra", descreveu.

Mariana Guerreiro

Raul Manarte, psicólogo dos Médicos sem Fronteiras, está em Gaza há um mês e relata que "as pessoas não podem fugir". O português diz que "está uma sociedade a ser torturada" e que com a chegada do frio e da chuva, as dificuldades tendem a aumentar.

"Os ataques de drones e helicópteros são constantes. Hoje e ontem tivemos duas explosões a 500 metros da nossa casa, e estamos dentro da zona humanitária", reforçou Raul Manarte.

O cenário de Gaza distingue-se de qualquer outro lugar onde o psicólogo já trabalhou. Apesar de já ter estado em cenários de "guerra, campos de refugiados e conflitos armados", confessou nunca ter visto um local onde as pessoas não podem fugir. "Estão presas num pedaço de terra" descreveu.

Histórias como a de bebés de dois anos com pernas amputadas, irmãos que testemunharam a morte dos pais num bombardeamento, e de uma pessoa que, após meses de tortura, saiu da prisão para descobrir que a sua família tinha sido morta, foram alguns dos exemplos que o psicólogo deu para ilustrar o sofrimento extremo da população.

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Também a chegada da chuva e do frio intensificou ainda mais as dificuldades.

"As pessoas mal conseguem dormir devido ao vento. Quem está à beira-mar acordou com o mar a invadir as tendas", relatou o português.

Como é o trabalho de um psicólogo em Gaza?

"Fazemos coisas quase inconcebíveis, como explicar a uma criança que não é culpa dela ter sido bombardeada, nem é Deus que está chateado. Depois, tentamos convencê-la de que amputar a perna será o melhor para a sua sobrevivência", contou.

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Raul Manarte frisou que ajuda internacional enfrenta enormes barreiras para chegar a Gaza, tanto "a entrada de comida, como medicamentos e até jornalistas".

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