No poder há mais de meio século na Síria, o partido Baath foi, para muitos sírios, um símbolo de repressão, iniciada em 1970 com a chegada ao poder, através de um golpe de Estado, de Hafez al-Assad, pai de Bashar, que liderou o país até morrer, em 2000. Agora, com a queda desse regime, "as mudanças que já estão a acontecer no país representam uma grande melhoria para o povo sírio", considerou a jornalista Mia Alberti.
"Estamos a ver pessoas que estão a voltar para casa. Milhões de refugiados que querem voltar para casa, que se sentem à vontade e seguros para o fazer", acrescentou a jornalista.
Ao fim de mais de 50 anos deste Reino-Assad, um "regime autoritário, totalitário, distópico e horrível", agora os sírios "têm, pela primeira vez, a opção de fazer do país deles aquilo que eles quiserem", reforçou Mia Alberti.
Desafios e influências externas
Embora já se note estas melhorias, ainda há muitos desafios pela frente, segundo a jornalista, mostrando-se preocupada com o grupo HTS - Organização para a Libertação do Levante:
"Aquilo que eles dizem é que querem respeitar os direitos das mulheres e nós estamos a ver isso a acontecer, portanto, nós não podemos dizer que é apenas uma promessa. Mas só o tempo dirá o quão genuíno são as intenções deste grupo".
Para além disso, a HTS sabe que "para o futuro da Síria ser sustentável, até em termos económicos, será preciso apoio externo".
"Pelas próprias palavras do novo Governo, eles estão a tomar um 'país em ruínas, em ruínas, em ruínas'", citou a jornalista, exemplificando que "mesmo quando há uma transição de poder num país democrático é um desafio, portanto, imaginemos num país totalmente totalmente destruído".
Corrupção no governo de Bashar al-Assad
Ao abordar o legado deixado pelo governo de Bashar al-Assad, Mia Alberti destacou as questões de corrupção e a falta de recursos económicos.
"O que é que nós esprememos do governo de Bashar al-Assad? Corrupção, casas milionárias com túneis e dezenas de garagens cheias de Ferraris e Aston Martins".
A jornalista também apontou a descoberta de grandes quantidades de captagon, uma droga amplamente distribuída no Médio Oriente, nas residências e escritórios de Maher al-Assad, irmão de Bashar al-Assad. "Era daí que vinha a fortuna deles", explicou.
"Tirando isso, o que é que a Síria tem de economia? Nada, portanto, vai precisar muito desse apoio externo e de construir tudo, o Governo todo, os ministros todos", salientou a jornalista.
Além disso, há também "muitas informação que [o novo Governo] não têm, [bem como] uma série de alicerces e infraestruturas básicas, como eletricidade ou água, que já não estão a funcionar", exemplificou Mia Alberti.
A jornalista destacou ainda que, embora o povo sírio esteja unido contra Bashar al-Assad, há divisões internas e múltiplos interesses externos que continuam a desestabilizar a região.