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"Jogada arriscada de Costa" mostra que não teme possível dissolução do Parlamento

O analista de ciência política, Bruno Costa, explica como fica a relação entre Belém e São Bento após o que classifica de "jogada arriscada" de António Costa, mas que mostra que se quis "libertar" das "posições e pressões públicas de Marcelo".

Ana Lemos

O mais recente episódio da novela Galamba terminou com o primeiro-ministro a surpreender tudo e todos e a segurar o ministro das Infraestruturas no Governo. Mas o que quis e a quem mostrar António Costa com esta posição? E que consequências terá? Na antena da SIC, o analista político Bruno Costa considera que houve uma intenção clara do chefe do Executivo de se libertar do “jogo de Marcelo” e mostrar que nada teme.

“[Estamos perante] um jogo de forças, um braço-de-ferro entre o primeiro-ministro e o Presidente da República associado à liderança do Executivo, e esta é claramente uma jogada em que o primeiro-ministro decide mostrar quem é o responsável máximo pelo Governo, pela escolha dos governantes e desafiar de forma direta Marcelo Rebelo de Sousa, talvez também por se ter sentido incomodado por a posição do Presidente se ter tornado pública", disse, explicando que “sabemos que Marcelo tem várias estratégias de fazer passar a informação quando pretende que um posicionamento da Presidência se torne público”.

Foi, aliás, isso que fez “logo pela manhã de ontem [terça-feira]”, antes de Costa reunir com Galamba, e que “reiterou no comunicado” que emitiu após a decisão pública do chefe do Governo.

Ainda assim, reconhece o analista político, “é uma jogada arriscada”, mas que mostra também porque motivo “António Costa é designado um verdadeiro animal político” e que, neste caso, não tem “receio de ir a eleições” ou de “uma possível decisão do Presidente que incida sobre a dissolução da Assembleia da República”.

Bruno Costa destaca também o facto de o primeiro-ministro “assumir algo que, do ponto de vista de análise, é desproporcional, ou seja, [assume] a defesa de um ministro muito fragilizado politicamente e com muita dificuldade, a partir deste momento, de desempenhar as suas funções”.

“Se me recordo é a primeira vez que um ministro estará em exercício de funções com uma oposição, clara, escrita de um Presidente. Desta vez, não há uma magistratura de influência, há sim um posicionamento que Marcelo sentiu necessidade de tornar público relativamente à rejeição desta decisão política”, salienta.

E agora, como fica a relação entre São Bento e Belém? Uma coisa é certa, o chefe de Estado “perdeu ou deixou de ter na sua mão um dos três poderes: a magistratura de influência. Chegámos a um ponto em que Costa joga o trunfo da legitimidade eleitoral”. Mas Marcelo Marcelo continua com “outros dois poderes: a demissão do Governo ou dissolução do Parlamento”.

Mais. Tem ainda “uma outra possibilidade que é deixar o Governo quase em lume brando, a assumir a responsabilidade desta decisão” e daquilo que a que “vamos assistir com a continuidade da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP e a manutenção deste tema na agenda mediática”.

Porém, defende o analista, apesar do risco que António Costa optou por seguir, fê-lo garantindo que o “Governo está unido e coeso”, por isso reuniu o núcleo duro antes da ida a Belém.

Além deste trunfo jogado pelo chefe do Governo, não é descabido crer também que “o cansaço de Costa relativamente às posições e pressões públicas de Marcelo”, como são disso “exemplos claros” as saídas da ministra Constança Urbano de Sousa e do ministro Eduardo Cabrita, o levou a querer “libertar-se do jogo de Marcelo em que dia sim, dia não, falava nesse cenário da possível dissolução. Pelo menos, [agora, Costa] liberta-se e mostra que não tem receio dessa consequência”.

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