António Costa Silva, que em junho de 2020 dizia que integrar o Governo não fazia parte das suas “ambições”, nem do seu “ADN”, vai assumir o Ministério da Economia e do Mar, depois de uma carreira ligada ao setor do petróleo.
“Estar no Governo não faz parte das minhas ambições e não faz parte do meu ADN”, afirmou em entrevista à Lusa o então presidente executivo (CEO) da Partex, cargo que, entretanto, deixou, depois da dissolução da empresa, e que desde maio de 2020 esteve à frente elaboração do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
O episódio que o marcou para sempre
O gestor nasceu em 23 de novembro de 1952 em Catabola, no planalto central do Bié, de uma família já enraizada em Angola. Na mesma entrevista, contou um episódio da sua vida neste país, que o condicionou “para sempre”: foi preso e colocado frente a um pelotão de fuzilamento.
“A minha vida depois disso é uma espécie de bónus, poderia praticamente ter ficado ali, há coisas que nos condicionam para sempre”, disse o engenheiro de minas, que na altura da prisão era um estudante universitário de 25 anos, em Luanda.
Costa Silva, que se afirma como “claramente um homem que vem da esquerda”, esteve preso entre 1977 e 1980 na prisão de S. Paulo, na capital angolana.
Foi nesse período que chegou a ser colocado “frente a um pelotão de fuzilamento”, ouviu o ruído das armas, mas elas não dispararam: “Nunca soube porquê”, disse.
O jovem que queria mudar o mundo
A sua atividade política como líder do movimento associativo iniciou-se antes do 25 de Abril, contra o regime colonial, e prosseguiu depois da independência de Angola: “Éramos jovens e queríamos mudar o mundo”, recordou.
“Fui líder do movimento associativo na cidade de Luanda, criámos os chamados ‘Comités Amílcar Cabral’ e tivemos grandes batalhas políticas, até quase ao limite da rutura e da colisão com o próprio regime”, afirmou.
É na sequência dessa atividade que veio a ser preso, em dezembro de 1977, onde foi “barbaramente agredido e torturado quase dia sim, dia não, no primeiro ano de prisão”, recordou.
Carreira ligada ao petróleo
Licenciou-se em engenharia de minas pelo Instituto Superior Técnico, juntando depois um mestrado em engenharia de petróleos no Imperial College, em Londres, e um doutoramento sobre reservatórios petrolíferos, também em Londres e Lisboa. Tem três filhos.
Começou a trabalhar na Sonangol, depois na Companhia Portuguesa de Serviços (CPS), foi diretor executivo na multinacional francesa Compagnie Generale de Geophysique (CGG), onde coordenou projetos de exploração de petróleo no Bahrein, México e na Rússia e, mais tarde, no Instituto Francês de Petróleo, em Paris, onde lidou com alguns dos maiores campos de gás do mundo (Argélia, Venezuela, Arábia Saudita, Irão).
Em 2003 assumiu a presidência da Comissão Executiva do grupo Partex, petrolífera da Gulbenkian, que em 2019 foi vendida à empresa pública tailandesa PTT Exploration and Production. No dia 1 de setembro de 2021, anunciou a cessação de funções, depois de a única acionista ter procedido à dissolução e liquidação da petrolífera.
O rosto do PRR
Em 31 maio de 2020, o primeiro-ministro António Costa convidou António Costa Silva para coordenar a preparação do Programa de Recuperação Económica e a 16 de abril de 2021, nomeou-o para presidir à Comissão Nacional de Acompanhamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Assume agora a pasta da Economia e do Mar, num ministério alargado, com três secretários de Estado: Economia; Turismo, Comércio e Serviços; e Mar.
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