Eleições nos EUA

DIA D-64: Trump e a confiança perdida

Opinião de Germano Almeida. Donald Trump terá perdido a confiança de uma parte muito significativa dos eleitores americanos, mas continua a liderar os segmentos em idade ativa, que geralmente estão mais ligados à participação eleitoral.
Chip Somodevilla/Getty Images

Germano Almeida

1 – Trump e a confiança perdida

Nunca confiei muito na tese de que “toda a gente que votou Trump o segue de forma fanática e acrítica”. Isso acontecerá com uma parte importante do seu eleitorado, mas em vários momentos da presidência bizarra 2017-2021 se percebeu que quando Trump se comportou de forma inaceitável viu reduzir ao mínimo esse tal núcleo de apoio indestrutível. Foi assim após Charlotesville, no verão de 2017 (quando fez equivaler os supremacistas brancos racistas com a esquerda radical). Foi assim quando teve posicionamento muito idêntico no verão de 2020, no auge dos protestos pela morte de George Floyd. Trump é o Presidente que se diz ser da Lei e da Ordem mas não respeitas regras básicas de um debate. Que faz tudo para contornar a lei e pagar menos impostos – e até se gaba disso. É uma Lei e Ordem muito peculiar: a Lei e Ordem para aplicar só quando lhe dá jeito. Trump terá perdido a confiança de uma parte muito significativa dos eleitores americanos. Como disse Michelle Obama no seu “closing argument” gravado em vídeo na Convenção Democrata de 2020: “Simplesmente não podemos confiar que este presidente nos diga a verdade seja sobre o que for. Trump é racista e semeia o medo e a confusão”.

2 - A vulnerabilidade do eleitorado democrata

Há uma contradição na atual tendência política nos EUA: os democratas teriam um eleitorado maioritário (também porque há mais americanos a desejar que Trump não faça um segundo mandato do que os que desejam que esse segundo mandato ocorra). Mas é também um eleitorado mais vulnerável. Trump tem um eleitorado mais fixo, fiel e mobilizado: 90% de quem diz nas sondagens que tenciona votar Trump pretende fazê-lo “por Trump”; com Kamala isso só acontece com 70% -- a escolha pelos democratas é menos personalizada e mais ligada a temas e valores. O principal motivo de muitos possíveis votantes Harris não é o candidato mas o desejo de impedir a vitória do adversário. Depois, a vulnerabilidade tem a ver com a forma de votar. Por fim, Kamala lidera em dois segmentos que tradicionalmente votam em menor quantidade: os jovens e os negros. Trump parece melhor em segmentos em idade ativa, que geralmente estão mais ligados à participação eleitoral, e nos brancos.


Uma interrogação: Será que o Iowa vai confirmar, em 2024, que deixou de ser um estado oscilante e passou a ser solidamente republicano?

Um Estado: Iowa

- O Iowa tem 3,2 milhões de habitantes:

  • 87,9% brancos,
  • 3,8% negros,
  • 2,5% asiáticos.
  • É o 31.º Estado com maior população,
  • É o 30.º Estado mais rico da União.

Resultado em 2020: Trump 53,1%-Biden 44,9%

Resultado em 2016: Trump 51,2%-Hillary 41,8%-Johnson 3,8%

Resultado em 2012: Obama 52,0%-Romney 46,2%

Resultado em 2008: Obama 53,9%-McCain 44,4%

Resultado em 2004: Bush 49,9%-Kerry 49,2%

Vale 6 votos no colégio eleitoral

Uma sondagem:

VOTO POPULAR NACIONAL -- Kamala 50 / Trump 46

(ABC News/Ipsos, 23 a 27 agosto)

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