Eleições nos EUA

EUA-2024, Eleição Decisiva: chegará a "Bidenomics" para a reeleição?

Joe Biden entre o aparente sucesso económico e a preocupante falta de popularidade. Donald Trump a confirma efeito "Teflon" entre quatro quintos dos republicanos – mesmo que o risco de uma condenação efetiva seja real. A análise de Germano Almeida, comentador SIC, a 494 dias da eleição presidencial norte-americana de 2024.

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden
MICHAEL REYNOLDS

Germano Almeida

O QUE OS ÚLTIMOS DIAS NOS MOSTRARAM

Os pretendentes à nomeação republicana vão crescendo em número (são já mais de uma dezena), mas a grande tendência permanece imune a processos judiciais: Trump com mais de metade do total das preferências dos republicanos, De Santis com um quarto a um quinto, os outros todos juntos com não mais de um quarto dos votos somados. Ou seja: será Trump vs DeSantis? Parece que sim. A menos que algo mais significativo aconteça a Donald no próximo ano. Joe Biden vai alternando sucessos internos com a gestão sensível do apoio à Ucrânia na invasão russa - e o espectro da idade avançada para segundo mandato ganha credibilidade com 'gaffes' como a de anteontem, em que se referiu à guerra do... Iraque, quando comentava a rebelião interna na Rússia. Tempos confusos, e um pouco estranhos até, em Washington DC.

TENDÊNCIA DEMOCRÁTICA

Joe Biden continua em dificuldades nas sondagens, mas parece ter na boa economia o seu principal trunfo para a reeleição. A mensagem da campanha do Presidente para 2024 aponta para um desemprego historicamente baixo, para o bom crescimento e para uma política globalmente bem-sucedida de descida da inflação por via de aumentos sucessivos, mas graduais, dos juros.

A grande dúvida é se o grosso do eleitorado vai sentir os efeitos positivos dessa Economia pujante a tempo da eleição de novembro de 2024. Joe Biden revelou esta quarta-feira a "Bidenomics", a filosofia económica que afirma servir como força motriz do sucesso da economia dos EUA. Quando uma economia cresce "do meio para fora e de baixo para cima, em vez de apenas de cima para baixo… todos saem a ganhar", exortou o Presidente num discurso em Chicago.

O problema é que o histórico da economia Biden está longe de ser consensual. E essa é uma crítica que todos os adversários republicanos lhe fazem.

A Fed aumentou os juros dez vezes seguidas, o que coloca um problema especialmente sensível no acesso à habitação. Por outro lado, o desemprego muito baixo revela uma face inesperada, numa economia tão aberta e flexível como a americana: com um mercado de trabalho escasso nas opções de procura, muitas pequenas empresas ficam com dificuldades de continuação de negócio, por manifesta falta de mão de obra especializada. E é preciso olhar para outro fator: o receio de recessão (ainda que mais psicológico do que real, se olharmos para os dados), tem levado as grandes empresas a apertaram o cinto e redimensionaram a sua força de trabalho.

Ou seja: os bons índices macroeconómicos poderão, numa primeira análise, conferir fôlego político ao Presidente. Mas para percebermos as grandes decisões eleitorais de 2024 vamos ter que ler os detalhes para não sermos surpreendidos com os resultados.

TENDÊNCIA REPUBLICANA

E se Donald Trump for mesmo preso? Isso, sim, seria um "gamechanger" na dinâmica da corrida presidencial de 2024. Para já, o ex-Presidente surge como superfavorito à nomeação republicana, com 30 pontos de avanço sobre Ron DeSantis. Mas o governador da Florida parece acalentar a secreta esperança de que Trump tenha algum tipo de impedimento até à eleição que lhe abra caminho de forma inesperada.

John Wood Jr., no USA Today, lança uma questão complexa. Mas necessária: "Biden permitirá que Trump vá para a prisão? A política dos EUA está num ponto perigoso. Estamos na encruzilhada. E parece que caminhamos para mais divisão e destruição. Não é tarde demais para escolhermos um terreno comum em vez de agravarmos o fosso".

A acusação do ex-presidente Donald Trump pelo Departamento de Justiça do governo Biden representa um ponto crucial na história dos EUA. Wood reforça: "Como sociedade, teremos que começar a levar a sério o trabalho de reconstruir a confiança bastante corroída dos americanos nas nossas instituições. Ou então continuamos a perseguir as nossas vinganças políticas, cegos ao facto de que entrámos num momento perigoso para a nossa democracia. É para mim muito claro, depois de assistir à cobertura jornalística da acusação a Trump, que muitos comentadores ainda não compreenderam os verdadeiros perigos desse momento. Talvez após o ataque ao Capitólio dos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021, os traumas de 2020 e todo o arco dramático da presidência de Trump, seja difícil ver mais um escândalo envolvendo o ex-presidente a mudar algo de forma fundamental. Mas seria um erro grave para quem protagoniza o nosso discurso público deixar de notar o perigo dessa viragem específica da nossa política e o que isso significa para a democracia americana".

UMA FRASE

"Oh, por favor, até parece que é um Adónis… Existem dezenas de milhões de americanos que nos estão a ver e que, como eu, têm lutado contra o seu peso. Eu continuo a lutar. Continuo a tentar fazer melhor e eles também. O que é que isso tem a ver com minha competência para o cargo? Eu dirigi o governo de Nova Jersey por oito anos"

(Chris Christie, candidato às primárias republicanas, a reagir aos comentários de Donald Trump sobre o seu peso excessivo)

UMA SONDAGEM

REPUBLICANOS NO NEW HAMPSHIRE: Trump 47 / DeSantis 19 / Christie 6 / Haley 5 / Pence 2

(St. Anselm, 21 a 23 junho)

Últimas