André Ventura afirma que vai viabilizar o governo de Luís Montenegro, com a expectativa de que, no futuro, a AD viabilize também um executivo do Chega, se o partido vencer eleições. Ventura insiste, contudo, que vai assumir o papel de liderar a oposição e não exclui avançar com uma comissão parlamentar de inquérito ao caso da empresa familiar do primeiro-ministro.
O líder do Chega foi recebido, esta sexta-feira, pelo Presidente da República, no Palácio de Belém. Em declarações aos jornalistas, no final do encontro, sublinhou que foi ouvido enquanto presidente do “segundo maior partido” do país. E, sobre esse tema, classificou como uma “patetice” o facto de José Luís Carneiro, candidato a secretário-geral do PS, afirmar que os socialistas continuam a ser a segunda maior força- porque, apesar de terem elegido menos deputados, conseguiram mais votos do que o Chega.
“Só mostra como os PS não é de alternativa. É da pequena coisa, do lugar”, atirou. “Levem a bicicleta, se é isso que gostam.”
"Se correr mal com este governo..."
Para André Ventura, é ao Chega que cabe liderar a oposição - e, tal como fez logo a seguir às eleições, voltou a garantir que terá um “governo sombra” pronto a entrar em ação, se “correr mal com este governo”.
Ainda assim, o líder do Chega assegura que assumirá uma postura responsável e viabilizar a entrada em funções do executivo de Luís Montenegro. Ventura garantiu a Marcelo Rebelo de Sousa que não apoiará a moção de rejeição do programa do governo que o PCP já anunciou que apresentará.
“Não permitiremos que soluções irresponsáveis e irrealistascriem uma nova crisepolíticanum momento em que os portuguesesquerem estabilidade e um governo e Parlamento operacionais”, declarou.
Mas esta boa vontade não vem sem uma expectativa, desde já anunciada por André Ventura: a de que “no futuro, caso o Chega vença legislativas, haja por parte de outros partidos, e da AD, a mesma tolerância democrática".
"Não esperem cartas brancas"
E Ventura deixa outro aviso: a AD que não espera dele “cartas brancas”.
“O governo deve sentir que tem no Chega um adversário de respeito, que quer estabilidade e credibilidade, mas nunca deve pensar que tem no chega uma espécie de espelho do PS, que feche os olhos à corrupção, promiscuidade, conflitos de interesse, imigração e insegurança”, declarou.
Referindo os alegados casos de corrupção na contratação de helicópteros, conhecidos esta sexta-feira – com buscas a uma empresa com ligações familiares ao ministro Leitão Amaro -, Ventura promete “total combatividade e firmeza”.
“Habituem-se”, avisou.
Questionado sobre eventuais ligações do Chega a um dos empresários visados na investigação em causa, André Ventura responde que, a confirmar-se crime, a posição do Chega será sempre a mesma. “Onde há corrupção ela tem de ser combatida. Doa a quem doer. Seja de que partido for.”
CPI ao caso Spinumviva ainda pode avançar
Perante a declaração de insistência na luta contra a corrupção, avançará o Chega com a comissão parlamentar de inquérito ao caso Spinumviva – que, em princípio, com uma nova liderança, o PS deverá deixar cair? Ventura responde que quer, primeiro, esperar pelos resultados da investigação da Justiça.
Contudo, não põe de parte a hipótese de seguir em frente com a ideia, se entender que permanecem “suspeitas graves”.
Algo que André Ventura se recusou a revelar foi o sentido de voto em relação ao Orçamento do Estado que Luís Montenegro apresentar. Alega que não se pode pronunciar, uma vez que ainda não o conhece. Contudo, lembra que, no último ano, a AD “preferiu fazer um Orçamento à medida do PS”.
“Se PS e PSD se entenderam 50 anos a fazer orçamentos e distribuir lugares, porque não se entendem outra vez?”, questionou, relegando a responsabilidade da aprovação do documento para os socialistas.
Conversas para distribuir lugares na Mesa da AR
Pode não haver diálogo para aprovar Orçamentos, mas, para já, há pelo menos entendimentos para distribuir lugares na Mesa da Assembleia da República. Disso mesmo deu conta André Ventura, que fala em “conversas a decorrer entre bancadas parlamentares”.
"Não é impossível chegar a entendimento alargado sobre a distribuição delugares” na Mesa da Assembleia da República, declarou Ventura, que prometeu ao Presidente da República avisá-lo ainda “esta noite” se esse acordo acabar por acontecer.
Também as eleições presidenciais do próximo ano foram tema de conversa com o Chefe de Estado, mas Ventura não avança conclusões. Volta a dizer que é menos provável hoje ser candidato. E diz que o Chega ainda não decidiu se apoiará um candidato próprio ou um outro - numa altura em que se aponta um possível apoio a Gouveia e Melo.