Eleições Legislativas

Partidos acusam AD de querer regressar ao "tempo dos dinossauros"

Os líderes dos respetivos partidos políticos reagiram às declarações de um cabeça de lista da Aliança Democrática sobre as alterações climáticas, negando que existem. A opinião consensual é que a AD se está a demonstrar conservadora e a fazer uma campanha que remonta a 1970.

TIAGO PETINGA/LUSA

Maria Madalena Freire

SIC Notícias

Os partidos políticos reagiram, mais uma vez, a outra polémica dentro da coligação Aliança Democrática esta quinta-feira. Desta vez, foi um cabeça de lista que agitou as águas que Luís Montenegro tem vindo a tentar domar. Mas o mar é difícil de controlar.

O cabeça de lista da AD por Santarém, e antigo presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal Eduardo Oliveira e Sousa afirmou esta quinta-feira que Portugal tem perdido investimento por "falsas razões climáticas", defendendo que "sempre existiram fenómenos extremos", e avisou que agricultores já falam em organizar milícias armadas perante "os roubos nos campos".

“Ideias pertencem ao Chega”

Mariana Mortágua disse que o discurso do cabeça-de-lista da AD por Santarém pertence ao Chega. A líder do Bloco de esquerda acusou Luís Montenegro de esconder Gonçalo da Câmara e outros candidatos.

"Não deixo de notar é que desde que a campanha começou temos visto vários candidatos do PSD e AD que acabam opor ter de ser escondidos pelo Luís Montenegro, com Gonçalo de Câmara Pereira, que acha legítimo bater numa mulher, depois Paulo Núncio diz que acha que põe em causa o direito civilizacional da mulher ao aborto e, agora, estas declarações do candidato a negar as alterações climáticas. Não nos parece que faça sentido e leva a crer a cada dia que passa Montenegro vai ter de esconder candidatos com ideias que pertencem ao Chega", disse.

"Unir o país"

O secretário-geral do PS disse que o discurso do cabeça-de-lista da AD por Santarém é de alarmismo e insegurança. Pedro Nuno Santos afirmou que é preciso um país unido para combater às alterações climáticas.

“Nós temos o cabeça de lista de Santarém, apresentado como uma grande especialista a fazer um discurso de negação climática, não podemos ignorá-la, ela atinge a agricultura e os agricultores, depois temos um discurso de demonstração de insegurança quando se fala de milícias, nós precisamos de unir o país, a caminhar junto para avançar”, defendeu o candidato socialista.

“Não recebemos lições de ninguém”

O presidente do PSD disse que as declarações do cabeça-de-lista da AD por Santarém não são alarmistas. Reforçou ainda que é preciso adaptar as alterações climáticas à vida do país.

“O nosso cabeça de lista é um homem profundamente conhecedor da realidade da agricultura portuguesa e do mundo rural e chamou a atenção para algumas circunstâncias, entre as quais os roubos de material de cobre que são realizados em realidade rural e criando um sentimento de insegurança. Não há nenhuma duvida com o comprometimento que a AD tem com o clima ambiente, somos percursores das políticas ambientais em Portugal, não recebemos lições de ninguém, nós não podemos por as coisas a desnivelar para um lado, é preciso conciliar as alterações climáticas e transição energética com a vida real do país”, relatou o líder social-democrata.

“Dar a mão ao conservadorismo”

A porta-voz do PAN disse que as declarações do cabeça-de-lista da AD por Santarém e ex-Presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal são negacionistas e refletem a incapacidade do partido em governar o país.

"Essas declarações só veem demonstrar que o PAN tem razão quando diz que a Aliança Democrática não serve aquilo que são as preocupações e anseios do país em matéria quer de alterações climática, quer da proteção animal. A AD quer trazer um revivalismo inaceitável à luz dos valores do século XXI, Montenegro optou por dar a mão ao conservadorismo e fazer uma campanha digna dos tempos de 1970, em vez de acompanhar o progresso civilizacional", disse Inês Sousa Real.

“Tempo dos dinossauros”

O líder da CDU disse que o discurso do cabeça-de-lista da AD por Santarém está muito atrás no tempo. Paulo Raimundo acusou o candidato de falta de preocupações.

“Essas pessoas que não têm mais nada para propor, mais nada para dizer, não têm nada para resolver os problemas das pessoas, querem voltar tão atrás ao tempo que não havia alterações climáticas. Nós queremos andar para a frente, a AD quer andar muito para trás, para o tempo dos dinossauros”, rematou o líder comunista.

A vida própria do planeta

Numa intervenção num jantar-comício em Ourém, o antigo presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) Eduardo Oliveira e Sousa defendeu que "a floresta não é apenas um parque temático ou um armazém de carbono, é economia".

"Proíbem novas plantações às cegas, baseados em ideologias de extrema-esquerda, movidos por um dissimulado combate à criação de riqueza, iludindo as pessoas com falsas razões de ordem climática ou de desordenamento do território", criticou.

Como exemplo, apontou um investimento de 400 milhões de euros que poderia ter sido feito em Portugal mas que foi para a Galiza porque "o Governo do PS quando ouviu a palavra eucalipto e reprovou o projeto".

O cabeça de lista da AD por Santarém considerou que "o planeta tem vida a própria", admitindo que "as alterações em curso são diferentes e são mais recorrentes", e há que "deitar mão do conhecimento e dos meios técnicos" para diminuir os riscos.

Num discurso de 20 minutos recheado de críticas à atual ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, alertou para uma outra situação nos campos, onde "voltaram os roubos" do cobre, da cortiça, da azeitona, das pinhas ou das castanhas.

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