Face às crescentes preocupações sobre o número de vítimas civis nos combates no Iraque e na Síria contra o Daesh, o coronel J.T. Thomas, porta-voz do comando militar norte-americano, anunciou hoje que o Exército dos EUA vai dar prioridade a este inquérito.
O incidente mais mortífero, segundo o governador da região de Mossul, Nawfal Hammadi citado pela AFP, ocorreu num ataque aéreo no bairro de Al Jadida em que morreram "mais de 130 civis", a 17 de março.
A investigação vai também centrar-se num ataque que atingiu uma escola em Mansoura, perto de Raqa, na Síria, a 21 de março, onde morreram 33 pessoas, segundo o Observatório Sírio dos direitos Humanos (OSDH).
Outro ataque sob investigação é o que ocorreu perto de uma mesquita em Al-Jineh, província de Aleppo, a 16 de março, que matou 49 pessoas segundo o OSDH. Os militares norte-americanos afirmam que visavam uma reunião de responsáveis da Al-Qaeda.
700 vídeos de bombardeamentos em análise
"Uma das coisas que vamos examinar é se alguns dos números resultam de diferentes incidentes, diferentes operações, nesta batalha tão disputada e feroz que se desenrola em Mossul" contra o Daesh, explicou o coronel aos jornalistas, numa videoconferência a partir do Pentágono.
Vão ser analisados mais de 700 vídeos filmados durante os ataques aéreos sobre esta zona de Mossul, durante um período de dez dias à volta do dia 17 de março, precisou.
Mais de 300 civis mortos no espaço de um mês em Mossul
"De acordo com informação confirmada pelo gabinete dos Direitos Humanos da ONU e da Missão de Assistência da ONU no Iraque, pelo menos 307 pessoas foram mortas entre 17 de fevereiro e 22 de março", indicou o gabinete das Nações Unidas em comunicado.
A mesma fonte acrescentou ter recebido relatórios de que outros 95 civis terão sido mortos entre 23 e 26 de março, em quatro bairros na parte ocidental de Mossul.
As vítimas resultaram de ataques do Daesh e de bombardeamentos aéreos, precisou o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein. Outras 273 pessoas ficaram feridas.
O Alto Comissariado cita o incidente no bairro de Al Jadida, oeste de Mossul, num ataque aéreo que alegadamente tinha como alvo atiradores do Daesh e equipamento e que atingiu casas.
Segundo testemunhos recolhidos pela ONU, os jihadistas estão a obrigar os civis a permanecer em suas casas, "em muitos casos fechando-as lá dentro", enquanto tomam posições, com armamento, nos telhados. Ao detetarem estes combatentes, as forças da coligação bombardeiam os edifícios, matando estas milícias, mas também os civis no interior das casas.
O Alto Comissário condenou hoje, em comunicado, esta prática do Daesh, mas também advertiu a coligação internacional liderada pelos Estados Unidos de que deve ter muito cuidado ao planear os seus ataques.
"A estratégia do Daesh de usar crianças, mulheres e homens para se proteger dos ataques é cobarde e vergonhosa. Vai contra os mais básicos padrões da dignidade humana e da moralidade. À luz da lei internacional estes atos podem constituir crime de guerra", afirmou Zeid. Ao mesmo tempo, realçou que a condução de "operações militares em áreas densamente povoadas continua a pôr em grave risco os civis que permanecem nestas áreas".
Mais de 286 mil iraquianos deslocados
A Organização Internacional das Migrações informou hoje que mais de 286 mil pessoas foram deslocadas das suas casas devido às operações para libertar Mossul do Daesh, que começaram a 17 de outubro último.
Desde 25 de fevereiro, quando a população começou a fugir devido à ofensiva lançada pelas forças iraquianas sobre a parte ocidental da cidade, a OIM registou 27.634 famílias (165.744 pessoas) deslocadas.
Cerca de 600 mil pessoas permanecem nas áreas da parte Ocidental de Mossul, sob controlo do Daesh, incluindo 400 mil que estão encurraladas na cidade velha, em condições semelhantes a um cerco.
Com agências