O sexo dos bebés humanos e de outros mamíferos é decidido por um gene que determina o sexo masculino no cromossoma Y. Mas o cromossoma Y humano está a degenerar e poderá desaparecer dentro de alguns milhões de anos.
Esta teoria levanta várias questões: se um dia o cromossoma Y desaparecer, deixarão de existir homens? Sem os homens, a nossa espécie não se reproduz. Será o fim da espécie humana tal como a conhecemos? Estará esse fim biologicamente planeado com antecedência?
A hipótese foi apresentada na década de 2000 pelos biólogos John Aitken e Jennifer Graves na revista Nature, segundo a qual, ao contrário do cromossoma X, que contém 900 genes, o Y só tem entre 50 a 100. Isso significa que, ao longo da evolução, perdeu “cerca de 10 genes por milhão de anos”.
A conclusão destes cientistas é a de que o cromossoma Y poderá desaparecer dentro de 4,5 a 11 milhões de anos.
Mas nem todos os cientistas concordam com esta teoria e até os próprios cientistas que a formularam em 2003, atualmente já apontam outro caminho evolutivo: um novo gene determinante do sexo.
Como o cromossoma Y determina o sexo
Nos seres humanos, como noutros mamíferos, as fêmeas têm dois cromossomas X e os machos têm um único X e um pequeno cromossoma chamado Y.
O X contém cerca de 900 genes que realizam todo tipo de trabalho não relacionado ao sexo. Mas o Y contém poucos genes (cerca de 55) e muito ADN não-codificante – ADN simples e repetitivo que parece não ter nenhuma função.
Mas o cromossoma Y contém um gene muito importante que dá início ao desenvolvimento masculino no embrião.
Cerca de 12 semanas após a conceção, esse gene-mestre ativa outros que regulam o desenvolvimento de testículo. O testículo embrionário produz hormonas masculinas (testosterona e derivados), que determinam que aquele bebé será do sexo masculino.
Este gene sexual mestre foi identificado em 1990 como SRY (região sexual no Y).
Desencadeia um caminho genético que começa com um gene chamado SOX9, que é chave para a determinação masculina em todos os vertebrados, embora não esteja nos cromossomos sexuais.
Como é que o cromossoma Y está a desaparecer?
A maioria dos mamíferos tem cromossomas X e Y semelhantes aos nossos: um X com muitos genes e um Y com SRY e mais alguns genes.
É por isso um sistema que apresenta problemas devido à dosagem desigual de genes X em homens e mulheres.
Então como é que um sistema tão estranho evoluiu? Uma descoberta surpreendente foi a de que o ornitorrinco da Austrália tem cromossomas sexuais completamente diferentes, mais parecidos com os dos pássaros.
No ornitorrinco, o par XY é apenas um cromossoma comum, com dois elementos iguais. Isto sugere que X e Y dos mamíferos em tempos foram um par comum de cromossomas.
Por sua vez, isto deve significar que o cromossoma Y perdeu de 900 para 55 genes ativos ao longo dos 166 milhões de anos em que os humanos e os ornitorrincos evoluíram separadamente. Isso representa uma perda de cerca de cinco genes por milhão de anos. A este ritmo, os últimos 55 genes do Y desaparecerão em 11 milhões de anos, escreve uma das investigadoras, Jenny Graves, Professora de Genética, La Trobe Universit, em The Conversation.
O que significa para o futuro dos homens?
Tendo em conta que, em termos evolutivos, é iminente o desaparecimento do cromossoma Y humano, obviamente que há uma preocupação maior: o que acontecerá ao homem?
Para nos reproduzirmos, precisamos de esperma e de homens, o que significa que o fim do cromossoma Y poderá anunciar a extinção da raça humana.
Uma descoberta numa espécie de roedores no Japão apoia uma possibilidade alternativa – que os humanos possam desenvolver um novo gene determinante do sexo.