Um estudo liderado por investigadores da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, descobriu que a deficiência de taurina, um nutriente produzido no nosso organismo, leva ao envelhecimento e que os suplementos de taurina podem melhorar a saúde e aumentar a expectativa de vida em animais.
A falta de taurina – um nutriente produzido no corpo e encontrado em muitos alimentos – é um fator de envelhecimento em animais, de acordo com um novo estudo publicado na revista Science, liderado por investigadores da Universidade de Columbia e que envolveu dezenas de especialistas do envelhecimento de todo o mundo.
O mesmo estudo descobriu ainda que os suplementos de taurina podem retardar o processo de envelhecimento em vermes, ratinhos e macacos e podem até prolongar a expectativa de vida saudável de ratinhos de meia-idade até 12%.
“Nos últimos 25 anos, os cientistas têm tentado encontrar fatores que não só nos permitam viver mais, mas também que aumentem o tempo com saúde, o tempo em que permanecemos saudáveis na velhice”, diz o líder do estudo, Vijay Yadav, professor assistente de genética e desenvolvimento no Colégio de Médicos e Cirurgiões da Universidade de Columbia.
Nas últimas duas décadas, à medidas que os seres humanos vivem mais tempo, têm sido desenvolvidos esforços para identificar formas de melhorar a saúde na velhice e os cientistas têm percebido que o processo de envelhecimento pode ser manipulado.
Estudos anteriores descobriram que várias moléculas transportadas pela corrente sanguínea estão associadas ao envelhecimento. Menos certo é se essas moléculas são diretamente responsáveis pelo processo de envelhecimento ou se são apenas passageiros que acompanham o passeio.
Assim, a teoria é: se uma molécula é um impulsionador do envelhecimento, então, restaurar os seus níveis como os que temos na nossa juventude atrasaria o envelhecimento e aumentaria os anos de vida com boa saúde.
O elixir da juventude dentro de nós
O cientista Viajv Yadav trabalhava sobre a osteoporose quando descobriu o papel da taurina na construção óssea.
Pela mesma altura, outros investigadores descobriam que os níveis de taurina estavam relacionados com o sistema imunitário, com a obesidade e com funções do sistema nervoso.
“Percebemos que, se a taurina regula todos estes processos que vão diminuindo com a idade, então talvez os níveis de taurina na corrente sanguínea afetem a saúde geral e a expectativa de vida”, diz Yadav.
“Este estudo sugere que a taurina pode ser um elixir da vida que está dentro de nós e que nos ajuda a viver vidas mais longas e saudáveis”.
Taurina diminui com a idade, suplemento aumenta a expectativa de vida
A equipa de Yadav estudou os níveis de taurina na corrente sanguínea de ratinhos, macacos e pessoas e verificou que diminuem substancialmente com o avançar da idade. Nas pessoas, o nível de taurina aos 60 anos é de um terço em relação a uma pessoa aos 5 anos de idade.
Começou aí a experiência em maior escala com ratinhos de laboratório, 250 fêmeas e machos de 14 meses de idade (cerca de 45 anos em termos humanos).
Todos os dias, o cientista alimentava metade com um suplemento de taurina, outros com uma solução de controlo. No final da experiência, Yadav e a equipa descobriram que a taurina aumentou a expectativa de vida média em 12% em ratos fêmeas e 10% em machos - três a quatro meses extras de vida, equivalentes a cerca de sete ou oito anos humanos.
Suplementos de taurina na meia-idade prolongam a expectativa de vida saudável
Para saber como a taurina afeta a saúde, Yadav trouxe outros especialistas em envelhecimento que investigaram qual o efeito da toma de suplementos de taurina na saúde e na expectativa de vida em várias espécies.
Nos ratinhos descobriram que, aos 2 anos de idade (equivalente a 60 anos humanos), os animais que tomaram durante um ano suplemento de taurina eram mais saudáveis em vários parâmetros de saúde do que aqueles que não tomaram suplemento.
A taurina suprimiu o aumento de peso associado à idade nos ratos fêmeas (mesmo nas que estavam na “menopausa”), aumentou o gasto de energia, aumentou a massa óssea, melhorou a resistência e a força muscular, reduziu os comportamentos de depressão e ansiedade, reduziu a resistência à insulina e promoveu o “rejuvenescimento” do sistema imunitário, entre outros benefícios.
“Não só descobrimos que os animais vivem mais, como também descobrimos que vivem vidas mais saudáveis”, segundo Yadav.
A nível celular, a taurina melhorou nos ratinhos muitas funções que geralmente diminuem com a idade:
- diminuiu o número de “células zombies” (células velhas que deveriam morrer, mas permanecem e libertam substâncias nocivas)
- aumentou a sobrevivência após uma deficiência de telomerase
- aumentou o número das células estaminais presentes em alguns tecidos (que podem ajudar os tecidos a cicatrizar após uma lesão)
- melhoraram o desempenho das mitocôndrias
- reduziram os danos no ADN
- melhoraram a capacidade das células de detetar nutrientes.
Efeitos semelhantes foram observados em macacos rhesus de meia-idade, que receberam suplementos diários de taurina durante seis meses. A taurina impediu o aumento de peso, reduziu a glicose no sangue em jejum e os marcadores de lesões no fígado, aumentou a densidade óssea na coluna e nas pernas e melhorou a saúde dos seus sistemas imunitários.
“Independentemente do indivíduo, todos aumentaram os níveis de taurina após o exercício, o que sugere que alguns dos benefícios do exercício para a saúde podem vir de um aumento da taurina”, diz Yadav.
Taurina
A taurina é um nutriente produzido no nosso organismo, nomeadamente pelo fígado, importante para o funcionamento do sistema nervoso central, da imunidade, da visão e da fertilidade.
Pode também ser ingerida através de alimentos como peixe, frango, peru, carne vermelha e frutos do mar.
Duas experiências promissoras com humanos
Os investigadores ainda não sabem se os suplementos de taurina melhorarão a saúde ou aumentarão a longevidade em seres humanos, mas duas experiências sugerem que a taurina tem potencial.
Na primeira investigação, Yadav e a sua equipa analisaram a relação entre os níveis de taurina e aproximadamente 50 parâmetros de saúde em 12.000 adultos europeus com 60 anos ou mais. No geral, as pessoas com níveis mais altos de taurina eram mais saudáveis, com menos casos de diabetes tipo 2, tinham níveis mais baixos de obesidade, hipertensão reduzida e níveis mais baixos de inflamação.
“Estas são associações que não estabelecem causalidade, mas os resultados são consistentes com a possibilidade de que a deficiência de taurina contribua para o envelhecimento humano”, refere Yadav.
O segundo estudo testou se os níveis de taurina responderiam a uma intervenção conhecida por melhorar a saúde: o exercício físico.
Os voluntários, atletas e indivíduos sedentários, realizaram um extenuante treino de ciclismo. Os investigadores mediram os níveis de taurina antes e depois e encontraram um aumento significativo de taurina entre todos os grupos de atletas bem como nos indivíduos sedentários.
Mais estudos sobre a taurina e outras estratégias antienvelhecimento
Apesar destes resultados encorajadores, para determinar se suplemento de taurina traz realmente benefícios à saúde, serão necessários mais estudos e ensaios clínicos aleatórios em mais pessoas onde serão medidos vários parâmetros de saúde, sublinha Yadav.
Atualmente estão já considerados para ensaios clínicos potenciais medicamentos antienvelhecimento que incluem metformina, rapamicina e análogos NAD.
“Acho que a taurina também deve ser considerada. E tem algumas vantagens: a taurina é produzida naturalmente no nosso corpo, pode ser obtida naturalmente na dieta, não tem efeitos tóxicos conhecidos e pode ser potencializada pelo exercício", considera Yadav.
“A abundância de taurina diminui com a idade, portanto, restaurar a taurina a um nível jovem na velhice pode ser uma estratégia antienvelhecimento promissora”, conclui.