Crise Sísmica nos Açores

Autoridades admitem “sismo de maior magnitude ou erupção” nos Açores: o que se sabe até agora

Foram registados mais de 1.800 sismos na ilha de São Jorge, desde sábado à tarde.

O Governo Regional dos Açores está a preparar vários cenários para o caso de agravamento da crise sismovulcânica na ilha de São Jorge, no arquipélago dos Açores. Retirar pessoas da ilha é uma das opções. O chefe do Executive reconhece que a situação é “preocupante” e as autoridades admitem a possibilidade da ocorrência de um sismo de magnitude superior ou erupção. Os bombeiros e Proteção Civil estão prontos para atuar.

Desde sábado à tarde, foram registados mais de 1.800 sismos na ilha. Desses, 104 foram sentidos pela população. Só esta terça-feira, foram sentidos 22 abalos. A crise sismovulcânica acontece entre a vila das Velas, na zona sul da ilha, e a Fajã do Ouvidor, na costa norte.

O presidente do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA) adiantou à agência Lusa que a atividade sísmica continua “muito acima” dos valores de referência.

“Temos de colocar todos os cenários possíveis em cima da mesa, não descartando qualquer um, ao nível de proteção civil de planeamento de emergência, de gestão de riscos”, refere Rui Marques, lembrando que se trata de “um sistema vulcânico ativo”.

O mesmo responsável admite a possibilidade de “um sismo com uma magnitude superior” aos que se têm registado.

De acordo com Clélio Meneses, secretário Regional da Sáude, não há, para já, evidências de atividade vulcânica.

“Não há qualquer sinal ou evidência de atividade vulcânica, quer pelo satélite, quer pelos sensores. Todas as ocorrências sísmicas têm origem tectónica. No entanto, pelo histórico e pela localização sucessiva dos epicentros, poderá ocorrer esta situação“, refere o titular da pasta da Saúde nos Açores.

Equipamentos preparados, meios em alerta e utentes vulneráveis transferidos

A Proteção Civil está a preparar-se para atuar num possível cenário de “um sismo de maior magnitude ou de uma possível erupção“, adianta em comunicado.

O executivo entrou em contacto com a Atlânticoline, empresa pública de transporte marítimo de passageiros, e com as Forças Armadas para a necessidade “emergente” de retirar pessoas.

Já foram enviados, por exemplo, equipamentos de busca e intervenção em estruturas colapsadas, detetores de soterrados e câmaras para buscas e meios da Proteção Civil, bombeiros e investigadores do CIVISA. Estão também a ser preparados bombeiros de outras ilhas para a necessidade de terem de se deslocar. Foram ainda enviadas para a ilha duas estações sísmicas.

Os utentes internados no Centro de Saúde das Velas, que está mais próximo dos epicentros dos sismos, serão transferidos para o da Calheta. Trata-se de uma medida preventiva.

As pessoas com a “mobilidade afetada” também terão uma “proteção acrescida“, adianta o responsável.

“Estamos a cuidar deste problema em permanência com os melhores técnicos para, no caso de ser necessário, termos a resposta preparada para intervir. Esta resposta tem uma natureza ao nível de necessidade de evacuações e de cuidados de saúde, afirma Clélio Meneses, secretário Regional da Saúde.

Atividade sísmica é “preocupante”

O presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, reconhece que a atividade sísmica na ilha é “preocupante”, uma vez que o epicentro está na “massa tectónica da própria ilha” e não no mar.

O responsável esclarece que a atividade sísmica está a criar fissuras na rocha, o que pode “evoluir para uma situação vulcânica”.

“Abrir fissuras pode permitir que o magma vulcânico encontre, nas fissuras, oportunidade de subir”, explica José Manuel Bolieiro.

Também o Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores confirma que os sismos registados “são de origem tectónica”.

“O facto de a crise sísmica se situar no denominado Sistema Vulcânico Fissural das Manadas leva a que se passe a designar por crise sismovulcânica, devendo ser considerados todos os cenários, incluindo um sismo de maior magnitude ou uma possível erupção“, esclarece a Proteção Civil.

Apelo à calma

O secretário regional da Saúde dos Açores apela à calma da população e pede que esteja atenta à informação das entidades competentes.

“O grande conselho é que as pessoas mantenham a calma possível num momento de transtorno como este que estão a viver desde sábado, tal é a intensidade da atividade sísmica, mas estejam atentos à informação que vai ser dada”, afirmou.

Clélio Meneses desaconselha deslocações à ilha que possam ser adiadas, como atividades desportivas e culturais.

São Jorge é uma das nove ilhas dos Açores. Com cerca de 9 mil habitantes, faz parte do Grupo Central do arquipélago.

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