Como se percebe, o conceito agrega duas posições (recusa e espera) que devem ser tratadas de forma diferente.
Alguém que recusa, não espera nem avalia. Revela uma posição formulada e procura de evidência que legitime essa pré-noção. Apenas um acontecimento forçado, inesperado, traumático ou penoso terá o impacto suficiente para mudar a posição. Alguém que espera, não recusa. Revela insegurança pelo desconhecido, pelo debate conflituante, por experiências vividas ou histórias de que teve conhecimento, ou porque mexe com crenças individuais. Ainda assim, revela atenção pelo que vai acontecendo e avaliação em cada momento dos prós e contras.
Indo mais fundo na compreensão do conceito sobressaem os diferentes alvos sob julgamento quando as pessoas aceitam, esperam ou recusam vacinas: a importância (se consideram a vacina importante), a efetividade (se consideram que a vacina produz resultados), a segurança (se consideram que a vacina é segura), a complacência (a avaliação de risco de contrair a doença), a conveniência (a acessibilidade e o preço da vacina) e as características das vacinas (o tipo de tecnologia, a farmacêutica envolvida, os apoios recebidos).
Do ponto de vista individual, os fatores que mais têm sido estudados na hesitação vacinal são o género, a idade, a escolaridade, a etnia, o facto de se ter filhos e a idade dos filhos. Não é possível descrever um padrão típico entre as pessoas que mais e menos hesitam e por que motivo. Os resultados variam em função do país e da vacina. Desde logo, isso revela que não há soluções únicas para resolver o problema, sendo necessário definir estratégias adaptadas aos países e a grupos populacionais específicos em função de cada vacina.
Do ponto de vista coletivo, fatores como as características dos regimes políticos (incluindo a corrupção e a transparência), a prevalência de doenças evitáveis (varíola, poliomielite, febre amarela) e de surtos (dengue, ébola, influenza) parecem condicionar a hesitação vacinal. Dados globais da vacinação contra a Covid-19 ilustram estas interpretações: a maior hesitação regista-se em países do Médio Oriente, Europa de Leste e Rússia, enquanto a menor hesitação em países do Sudeste e Leste Asiático.
Sabendo da impossibilidade de encontrar soluções únicas ou transversais para ajudar as pessoas a prevenir ou a reduzir a hesitação vacinal, múltiplas intervenções têm sido exploradas no contexto europeu.
Há cinco princípios norteadores que podem ser destacados.
Primeiro, a divulgação pública dos resultados das vacinas na redução de doenças e óbitos.
Segundo, detalhar a informação pública em função de grupos populacionais específicos (ex: pessoas com determinadas doenças, em determinadas faixas etárias ou com determinados estilos de vida), de modo a tornar as estatísticas em realidades mais próximas da vida das pessoas.
Terceiro, formar os profissionais de saúde na comunicação empática tendo em vista a melhoria da interação com os pacientes através da escuta ativa, do esclarecimento não punitivo nem avaliativo, da compreensão das dúvidas e da disponibilidade para dialogar.
Quarto, combate à desinformação por parte dos decisores políticos, da comunidade científica, do poder judicial e dos órgãos de comunicação social.
Quinto, compreender a importância de ações conjuntas, tanto para a população em idade escolar como ao longo da vida.