A Human Rights Watch pede aos governos que alarguem o acesso à vacina contra a covid-19 a todas as pessoas no mundo, sublinhando que os responsáveis pelo financiamento das vacinas com dinheiro publico devem ser transparentes.
Num relatório de 77 páginas divulgado hoje, a organização Humans Rights Watch diz que os responsáveis pelo financiamento das vacinas com dinheiro público devem ser transparentes sobre os termos e condições desse financiamento.
A organização considera também que os governos deveriam apoiar a proposta da Índia e da África do Sul de dispensar alguns aspetos das regras globais sobre propriedade intelectual para permitir a fabricação em grande escala e tornar as vacinas acessíveis para todos.
O relatório, intitulado "'Quem encontrar a vacina deve compartilhá-la': Fortalecendo os direitos humanos e a transparência sobre as vacinas contra a covid-19", a organização examina três barreiras para o acesso universal e equitativo a qualquer vacina considerada segura e eficaz: transparência, distribuição e custo.
Para a Human Rights Watch, os governos têm obrigação de garantir que "os benefícios das pesquisas científicas financiadas com dinheiro público sejam partilhados da maneira mais ampla possível a fim de proteger a vida, a saúde e o sustento da população".
No relatório, a organização destaca também que usar dinheiro público sem apresentar os termos e condições de uso desse financiamento prejudica os princípios de direitos humanos de transparência e prestação de contas.
No entendimento da Human Rights Watch, os governos deveriam tomar medidas para maximizar a disponibilidade e a acessibilidade a vacinas seguras e eficazes, e minimizar os custos para países mais pobres.
"É urgente que os governos se unam, sejam transparentes e cooperem para partilhar os benefícios das pesquisas científicas que financiam para ajudar a humanidade", disse Aruna Kashyap, advogada sénior de empresas e direitos humanos da Human Rights Watch e coautora do relatório.
Segundo a responsável, mais de um milhão de pessoas morreram e calcula-se que outro milhão morrerá até o final do ano.
"Os governos deveriam usar o seu poder regulatório e de financiamento para garantir que o lucro corporativo não determine quem irá receber as vacinas", referiu.
Para a organização de direitos humanos, o acesso universal e equitativo a uma vacina segura e eficaz contra covid-19 é fundamental para prevenir o agravamento da doença e a morte, ao mesmo tempo, que protege os meios de subsistência, possibilita que as crianças voltem às escolas e permite a recuperação económica.
A Human Rights Watch entrevistou especialistas em acesso a medicamentos, propriedade intelectual e direitos humanos, analisou a legislação internacional de direitos humanos, leis e políticas nacionais de vários países, e uma vasta gama de documentos públicos e fontes secundárias.
O relatório baseia-se em mais de seis meses de pesquisa a nível mundial sobre os impactos da pandemia em diferentes populações, incluindo profissionais de saúde.
Segundo o documento, os governos estão a usar dinheiro público para financiar as vacinas contra a covid-19 numa escala sem precedentes.
Os governos que mais financiaram vacinas foram os EUA, Alemanha, Reino Unido e Noruega, além da Comissão Europeia.
Em 13 de outubro, o Banco Mundial aprovou um plano de 12 mil milhões de dólares para garantir o acesso rápido a vacinas contra a covid-19 aos países em desenvolvimento.
No entanto, a falta quase total de transparência em relação ao financiamento público e das condições desse financiamento dificulta a compreensão das implicações para o acesso global à vacina.
Segundo a Human Rights Watch, alguns governos estão a negociar diretamente acordos bilaterais não transparentes com empresas farmacêuticas ou outras entidades para reservar futuras doses de vacinas, principalmente para seu uso exclusivo.
A organização sublinha também que o preço da vacina também pode ser uma barreira significativa ao acesso universal e equitativo, destacando que estas só serão acessíveis em alguns lugares se forem gratuitas.
As vacinas mais promissoras no combate à Covid-19
Laboratórios por todo o mundo estão numa corrida contra o tempo para desenvolver uma vacina contra o novo coronavírus. Há dezenas de equipas a testar várias candidatas a vacina, algumas estão mais avançadas e são promissoras, mas os cientistas avisam que nenhuma deverá estar pronta antes do fim deste ano ou mesmo no próximo ano.
Segundo o London School of Hygiene & Tropical Medicine, (que tem um gráfico que mostra o progresso das experiências) há 248 projetos e 51 estão na fase de ensaios clínicos, sendo que 10 estão na fase III - que consiste na inoculação da vacina em milhares de voluntários a fim de determinar se impede de facto a infeção.
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O projeto entre a Universidade de Oxford e a AstraZeneca é um dos mais promissores, a que se juntam os da Pfizer e da BioNTech, da Moderna, dos laboratórios Sanofi e GSK, de vários projetos chineses, nomeadamente da CanSinoBIO que já obteve autorização para administrar a vacina em militares chineses.
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Plataforma global COVAX
O mecanismo COVAX é uma plataforma global para o desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19, apoiada pela Organização Mundial da Saúde, para um acesso equitativo às vacinas a preços acessíveis.
Participam vários países, instituições e organizações, como a União Europeia.
No total, de acordo com os últimos dados oficiais em outubro, 184 países aderiram até agora ao mecanismo internacional de compra e distribuição de vacinas: 92 países de rendimentos baixos e médios que receberão as doses gratuitas e 92 países de " rendimento alto" que passarão pela Covax para se abastecerem, mas terão de pagar pelas doses do próprio bolso.
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Mais de 1,1 milhões de mortes no mundo
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,1 milhões de mortos e mais de 44 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Links úteis
- Especial sobre o novo coronavírus / Covid-19
- Covid-19 DGS/Ministério da Saúde - mapa dos números
- Covid-19 DGS - relatórios de situação diários
- Linha SNS24
- Direção-Geral da Saúde (DGS)
- Organização Mundial da Saúde (OMS)
- ECDC - Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças
- London School of Hygiene & Tropical Medicine (gráfico que mostra o progresso dos projetos de vacina)